Vinte e dois dias de luta, de perdas salariais conscientes e de sacrifício, pela dignidade no trabalho e, consequentemente, na vida. Com esta greve, os trabalhadores, organizados no seu sindicato de classe, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte, exprimem o cansaço de quem, há demasiado tempo, vê os seus direitos desrespeitados, os seus salários e carreiras congelados.
A Solverde, S.A., inserida num setor que vive uma excelente situação económica e vê sucessivos anos de crescimento, com aumentos nos preços dos quartos de mais de 21% em 2023 e quase 11% em 2024, decidiu deixar de aplicar o Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) negociado com a APHORT e a FESAHT/CGTP-IN. Esta decisão resultou em salários estagnados, carreiras bloqueadas e condições de trabalho cada vez mais degradadas. Muitos trabalhadores recebem o salário mínimo nacional quando a empresa que explora o Hotel Casino lucra milhões de euros.
Ainda mais, a Solverde recusa aplicar decisões judiciais claras, como o pagamento a 200% do trabalho em feriados. No Hotel Casino Chaves é cumprido no casino mas negado aos trabalhadores dos hotéis. Esta discriminação interna revela desprezo por quem assegura, todos os dias, o funcionamento da operação.
Face a estas condicões, o sindicato apresentou um caderno reivindicativo que inclui aumentos salariais de 15%, o estabelecimento de um salário mínimo de 1000 euros dentro da empresa, valorização das diuturnidades, abono de falhas e prémios por línguas, o pagamento dos feriados a 200% para todos os trabalhadores. A resposta da empresa? O silêncio.
Perante isto, os trabalhadores fizeram aquilo que sempre foi o último recurso do movimento operário: pararam. É na paralisação que os trabalhadores mostram que são eles que fazem a empresa funcionar. A greve é isso, uma suspensão da produção como forma de dizer basta. É um ato de coragem. Um gesto coletivo de quem sabe que, se houver mudança, é com a luta. E é mesmo luta, não só pelo sacrifício com perdas salariais reais, com pressão e desgaste, mas também porque é feita com convicção, com solidariedade e com esperança. Lutar é recusar a resignação. E essa luta continua.
Nestes 22 dias de greve os trabalhadores mostraram que sabem o seu valor. Que mesmo perante as pressões e chantagens patronais, não desistem. Em cada dia de greve, estes trabalhadores afirmam um princípio essencial: quem trabalha, tem direito a viver com dignidade.


