Nesse processo de crescimento, o brincar tem um papel fundamental que vai além da diversão, não é apenas uma forma de lazer, mas uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento físico, motor, cognitivo e emocional das crianças, promovendo a regulação emocional, a autoconfiança e o confronto com a adversidade. Contudo, observamos com crescente preocupação que, nas últimas décadas, o brincar tem sido negligenciado, resultando em consequências alarmantes na saúde e bem-estar das crianças. O Professor Carlos Neto, afirma que “crianças com joelhos esfolados são crianças saudáveis”. Essa frase resume de forma simples, mas poderosa, a importância de um corpo ativo para o desenvolvimento de uma mente saudável. Brincar ao ar livre, correr, saltar, cair e levantar são atividades que promovem a saúde física e emocional das crianças. No entanto, esse tipo de atividade tem diminuído ao longo dos anos, dando espaço a um aumento alarmante do sedentarismo infantil e potenciando a escalada de problemas de saúde como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, além do aumento de transtornos mentais e taxas de suicídio, em idades precoces.
O impacto do sedentarismo vai muito além da saúde física. As provas de aferição de 2024 revelaram um desempenho abaixo do esperado em áreas que exigem maior complexidade cognitiva, como interpretação, resolução de problemas e criatividade.
Um dos maiores vilões do sedentarismo moderno é a inovação tecnológica. Por um lado, os dispositivos oferecem benefícios educacionais e oportunidades de lazer, mas por outro, estão a substituir as atividades físicas. O problema não está no uso dos dispositivos digitais em si, mas no desequilíbrio entre o tempo dedicado às telas e o tempo gasto a brincar ao ar livre. É essencial encontrar um ponto de equilíbrio entre o mundo virtual e o real, onde as crianças possam usufruir dos benefícios de ambos sem que um substitua o outro.
Contudo, a superproteção parental tem contribuindo para a supremacia das telas. Com o objetivo de garantir a segurança dos filhos, muitos pais limitam o envolvimento das crianças em atividades que consideram arriscadas. Embora a intenção de proteger seja válida, essa superproteção leva à falta de liberdade e promove uma dependência crescente das tecnologias, que se tornam a principal alternativa para mantê-las seguras, mas também passivas. É fundamental compreender que uma criança que passa horas à frente de uma tela não está mais segura do que se estivesse a brincar ao ar livre, nem mais saudável.