Esta chamada de atenção surge pela pena de um homem, que é Presidente da República de um país que se orgulha de ter dado ao mundo a revolução francesa, cujas ideias de igualdade, de liberdade e de fraternidade, foram um farol para todos, desde o século XVIII. Surge também num momento em que a União Europeia parece vacilar, quer pelo abanão que está a sofrer com esta indecisão do Reino Unido, quer com o surgimento de forças políticas em determinados países – Itália, Polónia, Hungria, Áustria… que contestam determinados problemas, mormente no acolhimento que é dado a cidadãos extracomunitários.
Nós que vivemos aqui no canto mais ocidental do Sul da Europa, que saboreamos o acolhimento que nos foi dado aquando da adesão do nosso país em 1986, devemos estar atentos e prevenidos, contra os profetas da desgraça, que sempre aparecem em momentos destes. Em particular de algumas forças político-partidárias, que sempre discordaram (honra lhes seja feita) da nossa presença na Comunidade Europeia, embora não enjeitem os benefícios que a presença do nosso país neste fórum lhes vai dando.
Vale a pena recordar que a Comunidade Económica Europeia surge muito pouco tempo depois do fim da 2ª Grande Guerra, que devastou a Europa. Os fundadores, França, Itália, Alemanha, Reino Unido, e os países de Benelux, perceberam que os países europeus, só unidos, poderiam competir com os blocos – União Soviética, China, E.U.A –, que começavam a emergir na década de sessenta do século passado. O sonho espelhado no Tratado de Roma, fundador da Comunidade, materializou-se e chegou até aos nossos dias. Mal se percebe que o Reino Unido tenha decidido há pouco mais de dois anos, optar pela saída desta união.
As vicissitudes que o Brexit vem enfrentando, leva-nos a concluir que muitos dos que votaram pela saída já não estarão tão seguros, como imaginavam, das vantagens neste divórcio, que se pretendia de comum acordo.
O Reino Unido tem um problema insolúvel dentro de portas: a Irlanda do Norte. Nesta, metade da população, que é católica, anseia unir-se à República da Irlanda que é um país membro da União Europeia. A outra metade, protestante, pretende continuar ligada ao Reino Unido, mas não quer prescindir dos direitos que usufruiu até agora no estatuto comunitário.
Deixamos porém este imbróglio do Brexit que não é da conta dos restantes países da União. O que se pede aos outros 27 Estados membros, é que voltem a encarnar o espírito dos pais fundadores da Comunidade Europeia, espelhado no já referido Tratado de Roma, que apontava para um claro abaixamento de bandeiras de nacionalismos, em detrimento de políticas de conjunto, em matérias económicas, de proteção social, de saúde, de educação, de defesa e tantos outras. Assim se combaterão os populismos extemporâneos que começam a aparecer um pouco por toda a parte, que devem ser combatidos, com certeza, mas que não devem desviar-nos do essencial que é o princípio de que a união faz a força. Em período pré-eleitoral para o Parlamento Europeu será bom que os candidatos se comprometam com esta bandeira.