Sábado, 26 de Abril de 2025
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De uma pequena feira a negócio de milhões

O fumeiro sempre fez parte das rotinas do povo do Barroso, que aproveitava todas as partes do porco para enchidos que, com o fumo e o frio, eram conservados para alimentar as famílias ao longo do ano.

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Em quase todas as casas eram criados porcos, mas o destino era apenas a mesa da família. Em 1992 foi criada uma pequena feira, que nasceu timidamente e que hoje é um dos principais cartazes turísticos da região, atraindo dezenas de milhares de pessoas a cada edição. A Feira do Fumeiro de Montalegre é organizada pela câmara municipal, desde o arranque, a quem se juntou em 2002 a Associação dos Produtores de Fumeiro da Terra Fria Barrosã, que tem como papel acompanhar a criação dos animais ao longo do ano.

A primeira edição contou com 35 produtores, pouco mais de uma tonelada de fumeiro foi vendida, e foi visitada por 2.500 pessoas.

Mas, desde aí, o crescimento da “rainha do fumeiro” tem sido exponencial, e o certame ajudou a impulsionar empresas familiares, que investiram em cozinhas regionais e a partir da tradição passaram a ter uma importante fonte de rendimento.

José Maria Pereira lembra-se bem das primeiras feiras. Participa há quase 27 anos e recorda que “primeiro era feita com meia dúzia de produtores, com dois ou três porcos cada um e depois foi aumentando”, em especial quando construíram o Pavilhão Multiusos. Atualmente, diz que “se tornou mesmo uma loucura, isto é uma autêntica romaria”, uns interessados em conhecer as iguarias à venda, outros para matar saudades dos sabores à moda antiga. “Fica muito dinheiro na terra, devido ao fumeiro”.

Quando regressou da Suíça, onde esteve 10 anos,  pensou dedicar-se à produção de fumeiro com a esposa. “Queria ter um negócio meu, na altura havia projetos que financiavam a 50% e dediquei-me a fazer fumeiro a sério”, explica. Era um trabalho que conhecia bem, já que ajudava na casa dos pais, em que “se matavam seis porcos”. “Sempre fui interessado por isto e ainda cá estou”, diz agora com 67 anos.

“Decidi seguir os passos da minha mãe para não deixar a tradição morrer”
Ana Maria Gonçalves
Produtora

Explica que escoa 90% do produto a clientes habituais a partir de casa, mas reconhece que “não foi sempre assim, quando começámos só vendíamos na feira”, e que foi o certame que impulsionou o setor. “A Feira do Fumeiro é que deu ser a isto”, confessa, “com a divulgação e publicidade que houve é que chegou a muita gente”. 

Para José Maria o sucesso prende-se com a qualidade. “As pessoas têm ficado contentes com o produto e a feira tem vindo sempre a crescer em quantidade de produto”, afirma, acrescentando que mantém clientes “desde os primeiros dias da feira”.

Já teve mais porcos, mas no último ano criou 21, em Póvoa, sempre com produtos da terra. “A tendência é para diminuir, no nosso caso”, devido à idade avançada, admite. Deixa um apelo à “gente nova” para que “se interessem por isto, para não deixar acabar a tradição”. Acredita que esta é uma boa alternativa. Alguns já vão seguindo os conselhos e, na última feira, houve seis novos produtores a participar. 

Ana Maria Gonçalves dedicou-se à produção de fumeiro há dois anos, em Paredes do Rio, também depois de regressar do estrangeiro, onde esteve 25 anos. “Voltei sem muitas ideias do que fazer e decidi seguir os passos da minha mãe”, que se dedica ao fumeiro e participa na feira há longos anos. “É uma coisa que não deve acabar e nós jovens devemos pegar no trabalho dos antigos”. Reconhece que a existência da Feira do Fumeiro lhe deu segurança de que seria fácil vender o que produzisse. Este ano teve como matéria prima 25 animais, de criação própria, o que diz fazer toda a diferença. Ainda a começar, vende quase tudo na feira, e o pouco que sobra é usado para o cozido no restaurante que tem. Apesar de “dar muito trabalho e despesa, é uma boa aposta”, considerando que “os jovens deviam pegar nestas coisas, porque dá rendimento e para não acabar tudo, porque era uma pena”.

A forma de fazer as alheiras, o salpicão, chouriça de carne e a de abóbora, farinheira e sangueira foi a mãe que a ensinou, Fernanda Martins, que vai continuar a fazer fumeiro e vender na feira “enquanto puder”, sendo que já participa há 30 anos. “Antes fazia com a minha mãe, com quem aprendi, a minha avó também fazia, fomos passando de geração em geração e, agora, as minhas netas também ajudam”, refere Fernanda. A continuidade deixa-a satisfeita: “é um orgulho, uma filha seguir os passos da mãe”.

Nos últimos anos, o corrupio na feira tem aumentado, com destaque para os anos de 2023 e 2024, em que o produto esgotou e não chegou para as encomendas. Para Fernanda “como a feira de Montalegre não há nenhuma”.

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