Quanto maior era o massacre dos povos, maior era a obra dedicada aos deuses a mando do poder régio para perdoar todos os pecados. Portugal contemporâneo vive de e para a intervenção divina, bem demonstrada pela pobreza cultural e espiritual, claramente manifestada pelos representantes políticos eleitos democraticamente. Os remorsos destes os obrigam a devolver ao povo a sua humilde obra feita com grande pompa e festejo. Os intervenientes culturais ficam à margem desta religiosidade pseudocapitalista, tal como os leprosos corridos das cidades para não infetar os habitantes “saudáveis”, mas que eram “beneficiados” por ajudas divinas em esforço de ainda serem considerados humanos.
Falar de milhões para uma obra tornou-se tão banal como os tostões com que o português vive, mas alimenta a alma do povo ao ver que há um esforço para apaziguar a ira de Deus através do esbanjamento de euros em obras destinadas ao público religioso ou laico, e Graças a Deus, que a nossa Constituição da República de Portuguesa define o país como um Estado Laico! Agradeceremos eternamente aos benfeitores desta “sagrada” escritura, que quase ninguém lê, tal como a Bíblia, que não nos obriga a maiores investimentos quando fomos e somos visitados por altos representantes de outros credos e religiões. Esta manifestação ideológica-cultural é digna de uma civilização pouco ou nada avançada, em que perante a pobreza do povo, o visitante fica maravilhado com a riqueza dos governantes e dos templos religiosos. Para ser perfeito falta ainda o grande investimento nas forças armadas, mas o caso de Tancos veio demonstrar mais um milagre Divino, ao não se conhecer ao certo o potencial militar do País e surgir, como por magia, mais caixas do que aquelas que supostamente tinham sido desviadas. A culpa? Esta é somente de quem não reza à Fortuna, pois não têm um anjo da guarda que os protege da pobreza do ser.
Mas se o motivo é a fome, pede-se, então, o perdão divino justificando assim e ainda hoje o elevar de grandes templos para um evento único. Então a olhos de Deus, todos estão perdoados, pois quem rouba para comer não comete um crime desprezível, mas sim um ato enorme de fé que apaga por completo qualquer má interpretação das adjudicações diretas e de convites selecionados para salvar muitas almas do Purgatório em que se encontra a sociedade e a economia portuguesa.
E como pobres somos e pobres seremos perante Deus, fiquemos contentes por elevar rampas ao céu e que nos leva ao Divino endividamento das nossas almas, das pessoas e das gerações enquanto ficamos presos no campo de Asfódelos, onde nem tudo é mau e nem tudo é bom, é apenas irrelevante para o “ad eternum”.