Sábado, 27 de Julho de 2024
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“É urgente acabar a eletrificação da linha do Douro”

Entrevista ao cabeça de lista do BE | Vasco Valente | Enólogo | 40 anos

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Quais são as duas grandes prioridades que defendem para o distrito?
A agricultura (1) e os recursos naturais (2). 1. A agricultura e o turismo são os dois principais motores económicos do distrito. E se o turismo tem vindo a crescer nos últimos anos, a agricultura passa, cada vez mais, por dificuldades. É preciso por isso dar prioridade a este setor, de forma a estancar o êxodo rural, proteger os campos e as florestas, com melhor distribuição dos subsídios, promoção de agricultura extensiva e familiar e, no caso do Douro, dar valências regulatórias à nova Casa do Douro, de forma a proteger os interesses dos viticultores. 2. Os recursos naturais, na medida em que é preciso proteger a população do extrativismo de que a região tem sido alvo sem um retorno palpável. Somos contra as minas de lítio a céu aberto, que bate de frente com os interesses da população do Barroso, e precisamos de enfrentar os interesses das energéticas, que produzem em Trás-os-Montes 46% da energia hidroelétrica do país, enquanto são desta região os concelhos com o maior índice de pobreza energética e onde as pessoas passam mais frio em suas casas.

O setor da saúde atravessa uma fase conturbada. Na região, o que poderá ser feito para ultrapassar esses desafios?
Desde logo, autonomia na contratação de médicos, acabando com os concursos bianuais, e aumento significativo dos salários. Além disso, oferecer melhores incentivos à fixação dos médicos, como um suplemento salarial, habitação e serviços públicos de qualidade, como escola, mobilidade e cultura, de forma a fixar os médicos e as suas famílias. Só com serviços públicos fortes conseguimos ter comunidades saudáveis.

Quanto à ferrovia. Qual a melhor solução?
A melhor solução é inverter o desinvestimento das últimas décadas. É urgente acabar a eletrificação da linha do Douro e reabrir os ramais do Corgo, Tua, Sabor e o troço Pocinho – Barca D’Alva. Investir na ferrovia, é absolutamente essencial para melhorar a mobilidade das populações, diminuir o isolamento e democratizar o acesso aos transportes. A ferrovia é uma ferramenta essencial para inverter a lógica do turismo elitista, de modo a fazer chegar os turistas a territórios de baixa densidade e ao comércio local. Por último, mas não menos importante, combater as alterações climáticas – uma viagem de comboio polui 77% vezes menos que uma viagem de carro. O Bloco de Esquerda defende transportes públicos tendencialmente gratuitos e avança no programa para uma proposta de passes mensais de 15, 20 e 40 euros, para deslocações municipais, regionais e nacionais, respetivamente.

Relativamente aos impostos das barragens, qual a vossa posição?
A posição do Bloco é clara há vários anos. A EDP tem de pagar os impostos da venda das barragens, assim como todas as barragens devem pagar IMI. Só no distrito de Vila Real são 18 barragens. O silêncio do PS e PSD em relação a este assunto é ensurdecedor, mas fácil de explicar. Foram mais de 20 os ex-políticos do PS, do PSD e do CDS que trabalharam para a EDP, nas últimas décadas. Só assim se compreende que a EDP, que é
propriedade do Estado Chinês e apresentou lucros de 1200 milhões de euros em 2023, tenha esta borla fiscal.

A perda de população continua a ser um grave problema do interior do país. Que medidas defendem para combater este flagelo?
Este é um problema de fundo que não afeta só o distrito de Vila Real, mas que é transversal a todo o país e até à Europa. Mas tal como a desigualdade se sente mais em Portugal, devido ao problema crónico de baixos salários, também aqui se sente mais a desertificação. E isto é ideológico. O sistema capitalista cria imensa riqueza, mas acumula-a na elite. E não tenham ilusões, assim vai continuar, a não ser que os eleitores tenham a coragem de votar em políticos que veem este problema de forma clara e apresentam a única solução viável para ele: uma mudança de paradigma no sistema sócio-económico que ponha os interesses da generalidade das pessoas, e do território, à frente dos interesses dos grandes grupos económicos.




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