A dívida pública tem ocupado sistematicamente, ao longo dos últimos anos, um lugar no top 10 dos maiores endividamentos públicos no mundo, sendo que em 2021 equivalia a 127,4% do PIB português (a 3.ª maior dívida em percentagem do PIB na União Europeia, cerca de 269 mil milhões de euros). A dívida privada é ainda superior e, em 2021, representava 160,0% do PIB (cerca de 338 mil milhões de euros).
O crescimento da dívida portuguesa, seja ela pública ou privada, teve um enorme incremento na sequência da adesão de Portugal ao euro (maior facilidade de financiamento e com custos inferiores), e viria a “explodir” com a crise das dívidas soberanas. Nos últimos anos, e após uma ligeira redução da dívida pública entre 2017 e 2020, a resposta à crise pandémica voltou a aumentar o endividamento público português para níveis históricos. Atualmente, com o final da política de juros baixos e do programa de compra de dívida pública por parte do BCE (para dar resposta à inflação galopante), o elevado endividamento português deve ser motivo de preocupação e será certamente um dos maiores desafios para os nossos governantes nos próximos anos.
Ao contrário do endividamento, os rendimentos dos portugueses cresceram lentamente (rendimento líquido cresceu ainda menos do que o rendimento bruto, devido ao aumento da carga fiscal) ao longo das últimas 2 décadas, período marcado por uma estagnação da economia portuguesa. Ou seja, o aumento desmesurado do endividamento não contribuiu para um elevado crescimento económico em Portugal, mas deixou os portugueses sobrecarregados com uma enorme dívida (um peso que irá perdurar durante décadas).
A preços constantes (base=2021), em 2000 a dívida portuguesa per capita era de 34.409€ (a dívida pública per capita era de 9.662€) e o rendimento bruto médio de um português era de 15.603€ (rendimento líquido de 12.100€), cerca de 45% da dívida total. Em 2021, a dívida portuguesa per capita já valia 59.003€ (dívida pública per capita valia 26.169€ e dívida privada per capita 32.834€) e o salário bruto médio de um português era de 20.602€ (rendimento líquido de 14.828€), cerca de 35% da dívida total. Considerando apenas a população ativa, em 2021 a dívida total por cada português trabalhador era de cerca de 118 mil euros. É também notório o aumento do peso da dívida pública no total do endividamento. Em 2000 representava cerca de 28%, e em 2021 já representava 44%.
Carregamos uma dívida insustentável que vamos deixando como herança para as futuras gerações. Um mágoa dupla, uma vez que esse forte endividamento não se refletiu na clara melhoria da nossa competitividade económica, o que permitiria ter mais capacidade para pagar essa dívida e tornar as nossas finanças públicas mais sustentáveis – para não falar do endividamento privado.