“A nossa ideia é dar uma nova perspetiva a Siega Verde [na provincia espanhola de Salamanca], porque se trata de um património com valor e, ao mesmo tempo, colaborar com a Fundação Côa Parque [FCP] e criar parcerias entre ambos os projetos fronteiriços e transnacionais, e ter muitas atividades comuns entre os dois sítios arqueológicos, que são Património da Humanidade”, disse à agência Lusa o diretor da recém criada Fundação Siega Verde, Luís Ballesteros.
Para o novo responsável por esta Fundação, que foi constituída no passado 08 abril, faz todo o sentido explorar em conjunto toda esta área arqueológica da Península Ibérica, por estar localizada em regiões deprimidas, como é caso da província de Salamanca (Espanha) e o Vale do Côa (Portugal).
“Se trabalharmos em conjunto, podemos criar uma rota turística transfronteiriça dedicada à arte rupestre. Para já começam a aparecer grupos que visitarão o Côa e depois se dirigem para Siega Verde, e os mesmo acontece em sentido inverso. Vamos propor parcerias de colaboração com a FCP ao nível da visitação dos sítios arqueológicos. Trabalhar ao nível da exploração científica e educativa, em ambos os lados da fronteira, é outro dos objetivos”, vincou o responsável.
Por seu lado, a presidente da FCP, Aida Carvalho, disse que a classificação pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) do Vale do Côa é vista como um território contíguo de Siega Verde, tratando-se do mesmo bem.
“Tratando-se do mesmo bem, é importante que haja uma estratégia comum de promoção deste território – a começar pela formação conjunta de guias que são mediadores culturais, os quais, e ao mesmo tempo, podem trabalhar nos dois lados da fronteira e promover em simultâneo os dois destinos arqueológicos de uma forma mais articulada”, afirmou.
De acordo com Aida Carvalho, as duas entidades estão a promover um ingresso conjunto que dê acesso aos sítios arqueológicos de Siega Verde e ao Museu do Côa (MC), em que o visitante só paga uma vez.
“Se adquirir o bilhete na entrada do MC, além de visitar o nosso equipamento tem acesso direto e gratuito ao sítio de Siega Verde. O mesmo acontece se o bilhete for comprado em Siega Verde, há acesso ao Museu do Côa”, explicou.
A presidente da FCP defende, igualmente, que é preciso articular uma estratégia mais “eficiente e mais próxima”.
“Não há dúvida de que Espanha é o nosso mercado de proximidade e, portanto, existe muito interesse dos espanhóis em conhecer a Arte do Côa. Também é importante levar aos portugueses essa curiosidade para que possam conhecer Siega Verde. Estou certa de que há mais espanhóis a conhecer o Côa que portugueses a conhecer Siega Verde”, observou Aida Carvalho.
O Sítio Arqueológico de Siega Verde é uma extensão do Parque Arqueológico do Vale do Côa, que foi classificado património da UNESCO em 02 de dezembro de 1998, tendo Siega Verde obtido o mesmo reconhecimento em 01 de agosto de 2010.
Durante o ano de 1988, uma série de projetos de pesquisa foram realizados na área de Siega Verde pelo Museu de Salamanca, dirigido por Manuel Santonja e Rosario Pérez.
O trabalho de pesquisa concluiu que as gravuras de Siega Verde foram representadas usando três técnicas diferentes: picotagem de contorno, incisão e abrasão.
Estudos cronológicos indicaram que a antiguidade das gravuras de Siega Verde varia de 20.000 a 10.000 anos, sendo, portanto, mais recentes cronologicamente do que as do vale do Côa, que podem chegar aos 30.000 anos, em pleno Paleolítico Superior.
O Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) detém mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 80 sítios distintos, integrados nos 24 bens classificados, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30.000 anos, “cada vez mais expostas a adversidades climáticas, geológicas e antropomórficas”.
O PAVC foi criado 1997 e, no mesmo ano, a arte do Côa, foi classificada como Monumento Nacional. No ano seguinte, obteve o estatuto de Património da Humanidade pela UNESCO.