“Lembrais-nos que o homo sapiens é também homo ludens; que o divertimento lúdico e o riso são fundamentais para a vida humana, para nos expressarmos, para aprendermos, para darmos significado às situações”. O Papa Francisco tem ajudado a alguma reconciliação entre o humor e a religião. Manifesta sempre boa-disposição e tem histórias e comentários humorísticos oportunos, onde faz passar ensinamentos cristãos e aproveita para fazer um juízo crítico de atitudes e comportamentos de muitos cristãos. Não há muito tempo, era quase pecado rirmo-nos dentro de uma Igreja. Rir ou sorrir era considerado uma ofensa a Deus e um comportamento ímpio e indigno de quem estava diante de Deus a celebrar a liturgia.
Tudo tinha que ser feito com ar sério, sorumbático, esfíngico, rir ou sorrir significava fazer pouco, superficialidade, falta de fé, impiedade, que muito rapidamente iria ser censurado com um raspanete do senhor padre e em casa uns calduços bem dados. E mesmo socialmente, o riso era quase um ominoso atrevimento, que punha em causa a narrativa oficial da conversão e da penitência, da cruz e do sacrifício, quem se desse a risos e ironias era amaldiçoado, “muito riso pouco siso”, “a vida não está para risadas”, “ri-te, ri-te, que amanhã choras”. Enfim, muito mudou nos últimos anos, mostrando-se que se pode conjugar perfeitamente crença, comicidade e boa disposição. Aliás, o humor e a sátira têm prestado um bom serviço à religião. Graças a eles, têm-se purificado muitas verdades, doutrinas e preceitos religiosos, que se revestiam de irracionalidade, inconsistência e incoerência.
O humor é a medida das coisas, já diziam os romanos “ridendo castigat mores” (castiga os costumes rindo). O riso purifica a vida e dá-lhe mais consistência. Ajuda a perceber o que tem sentido e valor daquilo que não tem. Daí que seja importante que todos tenhamos sentido de humor, saibamos rir de nós e da vida, o humor ajuda-nos a perceber os nossos excessos, manias, artificialismos, imposturices, vedetismos pacóvios, gabarolices, contradições, hipocrisias, convicções tontas, fanfarronices. O riso e o humor tornam-nos pessoas mais enxutas, coerentes, autênticas e verdadeiras. Por outro lado, o humor traz prazer à vida. E felizes aqueles que sabem desfrutar da graça que a vida tem.