O passado não fica esquecido, fica escondido na paisagem e interiorizado na memória das comunidades, ajudando a criar e manter a identidade cultural de todos nós. Através de pessoas como o Padre João Parente temos alguma luz sobre o passado que marca a efémera passagem humana na terra, sendo sem dúvida um nome que se perpetua no tempo e se junta ao clérigo Jerónimo Contador de Argote, ao abade Manuel Azevedo, ao médico Henrique Botelho, o geólogo Carlos Ervedosa, entre outros que contribuíram para o conhecimento arqueológico de Vila Real. A homenagem surge em boa hora nestes lados e num tempo oportuno para demonstrar o quanto se pensa que se valoriza o património cultural nesta cidade, vindo também à praça a futurística musealização da Central do Biel. Tudo se traduz em mais um esforço para demonstrar que há preocupação sobre o património cultural da cidade, sendo muito curioso a escolha do dia da homenagem coincidir com o decorrer de um colóquio em torno de um património que gerou polémica devido à afetação de uma arquitetura de valor arqueológico para o concelho. Neste esforço iluminado de mediatismo, a retaliação aos acontecimentos infelizes que resultam na afetação e até na destruição de património cultural é feita com a notícia batida da dita musealização da antiga central hidroeléctrica do Biel.
Nesta iluminação surge o uso dos termos de “memória coletiva” e “património que devem salvaguardar”, o que faz perguntar onde estavam estes termos e esse interesse quando olharam para o lado enquanto a Panreal estava a ser destruída, a calçada da Avenida Carvalho Araújo e da via romana-medieval arrancada, o subsolo em volta de igrejas escavado sem haver intenção de salvaguardar os vestígios arqueológicos que pudessem existir ou a valorização do barro negro de Bisalhães? Nesse megaprojeto que ilumina a intenção de fazer alguma coisa por um património será que há um relatório prévio à obra e no decorrer da obra nesse edifício que quiseram classificar como património haverá especialistas da área de conservação e restauro, da história industrial ou da arqueologia industrial, no cumprimento da Lei de Bases de Proteção de Património cultural?
No aproximar do ano de eleições tudo é válido no discurso, mas de luz nada nos traz de novo, apenas um reflexo de uma claridade dos iluminados.