Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2025
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Mário Soares e a Igreja

Por estes dias, assinalaram-se os 100 anos do Doutor Mário Soares. Tenham calma que não vou discorrer sobre a sua ação política ou tentar qualquer avaliação sobre a sua intervenção política e social, não tenho capacidade para o fazer e não quero causar crises de urticária a ninguém ou impertinentes espirros alérgicos.

De qualquer forma, é inquestionável que é uma grande figura da história contemporânea portuguesa. Teve um papel vigoroso e corajoso na luta contra a ditadura, desempenhou um papel central na consolidação da democracia e da liberdade em Portugal. E não deixava de cativar pela sua entrega a causas e na defesa das suas convicções, e pela vivacidade e otimismo que punha na sua atividade. Como todos os seres humanos, teve as suas virtudes e os seus defeitos, os seus méritos e deméritos, as suas proezas e falhanços, que os atentos politólogos e estudiosos saberão muito bem identificar.

Mário Soares dizia sempre, convictamente, que era “socialista, republicano e laico”. Assumia-se como ateu, embora, na minha modesta opinião, parecia mais um agnóstico, não encontrava sólidos argumentos racionais para poder chegar à fé. Disse várias vezes que “não tinha sido tocado pela graça da fé”, ao contrário dos crentes. Não acreditava em Deus, nem na imortalidade da alma. E falava muito bem, porque, de facto, a fé é um dom de Deus, não é uma conquista do ser humano. Para ele, Deus não o presenteou com essa graça. Teríamos aqui pano para mangas para se conversar um bom bocado. Não foi por falta de exemplo à sua volta que não chegou à fé: o seu pai era um católico piedoso, a mãe ribatejana não era muito religiosa, mas tinha fé. Aliás, por causa de uma doença de Mário Soares, a mãe fez uma promessa a Nossa Senhora de Fátima. E lá teve de ir o jovem Mário Soares a Fátima, de vela na mão, com os pais, para pagar a promessa, embora, como ele disse a Clara Ferreira Alves, muito contra a sua vontade.

Acima de tudo, não sendo crente, destaco a relação franca e saudável que soube manter com a Igreja Católica depois do 25 de Abril, a quem prestava atenção e de quem lia e debatia os documentos, o respeito que teve e sempre exigiu pelas religiões e pela liberdade religiosa, quando o histórico republicano, neste campo, era profundamente negativo e acidentado. Desde o Iluminismo, muito haveria a contar. Sempre defendeu o diálogo entre as religiões e via nelas instituições fundamentais para a defesa dos direitos humanos e para a consolidação da democracia.

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