1 – O ano pastoral que estamos a iniciar terá uma marca especial: será o primeiro do triénio que assinala o centenário da diocese. Aprofundar as raízes foi o lema escolhido para inspirar os trabalhos nos vários âmbitos da vida diocesana. De facto, a missão da Igreja precisa de se alimentar nas raízes profundas da nossa fé, aquela que recebemos do testemunho das famílias cristãs em que nascemos e das comunidades onde crescemos, congregadas em torno de ritmos e vivências do cristianismo. O revisitar das raízes da nossa fé ajudará a que ela se ilumine com a Palavra de Deus, rejuvenesça na solicitude ao Espírito batismal e se robusteça na celebração comunitária dos sacramentos.
Aprofundar as raízes significa dar-se conta que quanto mais profundidade elas atingem, mais forte pode ser a árvore, mais largos os seus ramos e abundantes os seus frutos. Só se pode crescer com raízes! Na vida da Igreja, como em tudo mais, construir o presente aberto a um futuro de esperança aconselha um exercício da memória que passa pelo conhecimento e valorização das nossas raízes familiares, comunitárias, culturais e cristãs.
Neste ano propomo-nos ainda valorizar os meios telemáticos na vida pastoral da diocese. As redes sociais e as novas plataformas digitais ocupam um lugar cada vez mais importante na vida das pessoas e das organizações. Elas estão a reconfigurar o mundo, moldando uma nova cultura, habitada sobretudo pelas gerações jovens e aberta à curiosidade dos mais velhos. Sem esquecer o primado da pessoa ou substituir os valores da presença física e do encontro pessoal, estes novos meios ajudam a renovação pastoral, propondo novas linguagens, ampliando a comunicação e a participação de novos públicos.
Será ainda um ano dedicado ao aprofundamento da Encíclica do Papa Francisco «Laudato Sí, sobre o cuidado da Casa Comum», um texto publicado há cinco anos, mas que se revela de extrema atualidade. De facto, são tantos os sinais de alarme sobre a situação do planeta que se impõe uma reflexão urgente que una crentes e não crentes, bem como a promoção de ações conjuntas que incrementem estilos de vida mais sustentáveis e práticas sociais mais amigas do ambiente. A conversão ecológica é uma causa do presente, decisiva para as gerações futuras.
2 – A sombra da pandemia ainda se fará sentir durante este ano, condicionando o desenrolar da vida pessoal, familiar, social e das comunidades cristãs. Para defesa da saúde de todos é imperioso que nos diversos âmbitos da vida da diocese sejam respeitadas as normas das autoridades civis, bem como as orientações da CEP e as determinações diocesanas em vigor. Importa tomar consciência que os próximos tempos não serão fáceis e vão requerer de todos, a começar pelos cristãos, uma grande dose de responsabilidade no cumprimento das regras, de paciência para não ceder ao cansaço ou facilitismo e um grande espírito de comunhão e entreajuda. A este propósito, o Papa Francisco lembrou-nos que «a pandemia pôs em evidência quanto vulneráveis e interligados estamos todos nós. Se não nos preocuparmos uns com os outros, a começar pelos últimos, por aqueles que são mais atingidos, incluindo a criação, não podemos curar o mundo» (Audiência Geral de 12 de agosto).
3 – Na vida pastoral das paróquias, dos movimentos e associações, evitem-se as aglomerações de pessoas. A organização da catequese da infância e adolescência deve atender às orientações do Secretariado Nacional de Educação Cristã. Os grupos sejam adequados à dimensão dos espaços disponíveis (reduzidos a 10 ou 12 elementos) e podem funcionar de forma presencial, em alternância ou conjugação com encontros on-line. Será ainda necessário promover um maior envolvimento das famílias na catequese e não esquecer que nos encontros presenciais é indispensável cumprir as regras básicas (uso de máscara, distanciamento, higienização das mãos, arejamento das salas).
A eucaristia, cume e fonte da vida da Igreja, será sempre o momento central da vida das comunidades. Os atuais condicionamentos nas celebrações não podem servir de pretexto para um afastamento dos crentes, mas podem ser oportunidade para reforçar o amor por este sinal maior da presença do Senhor. Participar presencialmente na missa dominical ou, quando não é possível, acompanhar por outro meio continua a ser um dever do cristão.
O sacramento da Reconciliação com confissão individual é indispensável para uma vida cristã mais plena. Tendo presente as indicações da CEP para a realização deste sacramento, recomendo que em cada paróquia se preparem espaços apropriados e se estabeleçam tempos para que as pessoas se abeirem com confianças deste sacramento.
As visitas pastorais (com celebrações do Crisma) permanecem adiadas até que a situação pandémica permita a sua realização nos moldes habituais. Em seu lugar será agendado um tipo de visita do Bispo às várias zonas da diocese, mais pessoal, simples e informal.
4 – Uma especial preocupação merecem os idosos nos lares (ERPI’s), tão atingidos por esta pandemia. Compreendo e partilho o sofrimento destes nossos irmãos mais velhos e a angústia das suas famílias, sem deixar de enaltecer o trabalho dedicado e corajoso das equipas técnicas e dos colaboradores destas instituições. Eles constituem um grande testemunho do que significa servir e cuidar do outro. Este reconhecimento é extensivo aos médicos e enfermeiros, auxiliares, cuidadores, voluntários (bombeiros), forças de segurança pelo seu incansável empenhamento. Para todos invoco a bênção de Deus e peço que continuem a trabalhar, com ânimo e coragem, pelo bem de todos porque essa é a maior das causas. Da mesma forma, os responsáveis das IPSS’s, das Misericórdias e de outras instituições eclesiais, públicas ou privadas, são credores de reconhecimento pelo esforço acrescido na busca de respostas a esta adversidade.
5 – A pandemia, além do número de doentes e defuntos que tem causado, começa também a evidenciar graves consequências no plano económico e social. No mundo, mais ao perto ou mais ao longe, começa a crescer o número de pessoas desempregadas, de famílias carenciadas, de empresas e instituições em dificuldades. Precisamos de estar atentos a estas situações, de unir esforços e converter os corações, tantas vezes egoístas e gananciosos, para que se abram em gestos de partilha e solidariedade. Um cuidado especial é devido às pessoas que vivem sós, sobretudo idosos e doentes.
No atual contexto também nas comunidades cristãs se faz sentir uma redução de ofertas. Convido os cristãos a uma maior partilha de bens nas suas comunidades para que não faltem os meios necessários para que cada paróquia seja sustentável e também para repartir pelos mais pobres.
6 – Em momentos difíceis como este, o papel das famílias e das comunidades é imprescindível. Elas constituem a primeira e a mais básica rede de proteção, de afetos e de partilha. Apelo, por isso, a todas as famílias da diocese a que se mantenham unidas no amor e na paz, conscientes do grande tesouro que representam. Às crianças, adolescentes e jovens envio uma saudação pessoal acompanhada do desejo de que encarem o novo ano como oportunidade para crescerem como pessoas, dando mais valor às coisas de que sentiram mais falta, nomeadamente a escola, os amigos, o ar livre. A todos os educadores, pais, professores, catequistas auguro que, ao iniciar um ano tão atípico, não esmoreçam na paixão pela missão de educar. Aos mais idosos ou doentes peço que não percam a esperança de que a vida trará ainda dias bonitos e nunca deixem de acreditar que estão sempre no nosso pensamento e no nosso coração. Aos responsáveis das empresas, instituições e coletividades, aos decisores políticos locais e nacionais apelo a que, neste contexto tão exigente, nunca deixem de procurar o bem comum, no respeito pela dignidade e direitos da pessoa humana.
7 – Este ano pastoral vai exigir de todos nós que pertencemos a esta amada Igreja Diocesana de Vila Real, uma fé mais forte, uma oração mais intensa e uma solidariedade mais efetiva. As situações de provação constituem sempre um desafio à nossa fé. Por isso precisamos de uma fé forte, sempre com um olhar fixo em Jesus Cristo que nos enche de coragem e de serenidade. Unidos a Ele poderemos ser como a casa construída sobre a rocha ou a árvore plantada à beira da água. Só estas são capazes de resistir às tempestades ou sobreviver à estiagem.
Precisamos de uma oração mais intensa que reforce a nossa comunhão com Deus e com os irmãos e não nos deixe ceder ao medo. «A oração e o serviço silencioso são as nossas armas vencedoras» (Papa Francisco, Homilia de 27 de março de 2020). Precisamos ainda de cultivar uma solidariedade mais efetiva porque «para sairmos melhores desta crise devemos fazê-lo juntos, não sozinhos; ou juntos ou não é possível. Temos que o fazer em conjunto, todos nós, em solidariedade» (Papa Francisco, Audiência Geral de 2 de setembro de 2020).
Que Deus, Pai de bondade e misericórdia, abençoe e proteja a todos durante o novo ano pastoral. E Maria, Senhora da Conceição, nossa padroeira, interceda sempre pela nossa diocese, sobretudo pelas suas famílias e comunidades.