“É um número razoável, perante a desertificação do interior, olhando para o número de bombeiros que temos, não nos podemos queixar”, afirma o comandante Carlos Ferreira. O número elevado de voluntários consegue-se “através da motivação, chamar os jovens para participar”. “Como vivemos no interior e os jovens não têm muitas atividades, a não ser o desporto, se calhar os bombeiros são uma das opções principais. Muitas vezes vem de família, há um bombeiro e depois vem outra geração, isso influencia, ou grupos de amigos que se inscrevem juntos e fazem as escolas de estagiários”. Apesar do número de bombeiros, o comandante admite que a falta de emprego na região é um problema e “muitos dos 104 bombeiros não residem diariamente no concelho”.
“Desde que estou na corporação houve uma evolução constante e entram cerca de 18 bombeiros todos os anos”
José Marques – Presidente
José Marques, presidente da Associação Humanitária há um ano, e comandante durante 20 anos, afirma que desde que entrou na corporação houve “uma evolução constante” e “entram cerca de 18 bombeiros todos os anos”, a não ser na altura da pandemia.
Outra situação difícil de ultrapassar foi um acidente a caminho de um incêndio, há cerca de 2 anos, que vitimou mortalmente dois bombeiros de Vinhais e fez três feridos. “Isso mexeu com todos nós, pensamos que estamos preparados para tudo, mas ninguém está preparado para lidar com uma situação destas”, o que também pode condicionar a entrada de novos bombeiros. “Mas penso que a situação já vai estando ultrapassada”, afirma José Marques, que considera que a corporação vai “começar a ter o crescimento normal que estávamos a ter”.
Para a corporação vinhaense, as vias de comunicação são um dos principais desafios. “Nos transportes de doentes, demoramos muito tempo. Num serviço de INEM, para chegarmos a um hospital diferenciado nunca é menos de 1h30, e pode demorar até 3 horas”, conta o comandante. Depois também depende da capacidade de resposta do hospital para onde levam o doente, “se tem macas disponíveis ou temos de estar à espera”, o que implica, muitas vezes, “ter um meio e uma equipa cerca de meio dia a fazer esse serviço”. A corporação faz 55 a 60 mil quilómetros por mês, sendo que o valor pago por quilómetro, “não é compensatório” face ao preço do combustível. No entanto, Carlos Ferreira entende que não se pode olhar só para a parte remuneratória, nestes casos. “Também temos de ter aqui um ponto de equilíbrio, porque esta é uma parte de ação social junto da população, porque são pessoas de aldeias desertificadas. É um transporte que contabilizado podia ser mais rentável e termos melhores condições” e, desta forma, “melhorar a prestação desse serviço”.
As distâncias também são um desafio no verão, na hora de combate aos fogos, a que se acrescenta questões como a desertificação do concelho, a vegetação e a morfologia do terreno. “Há declives muito acentuados, os acessos são difíceis para chegar ao local. Mais de 50% do nosso concelho, que tem cerca de 700 km², está coberto por mato ou floresta”, sublinha.
Há sempre necessidades, como um veículo de transporte de água, também para abastecer as aldeias, mas “faltam apoios”, até pela dimensão do tecido empresarial: “Não temos a quem pedir”, garante o comandante, que diz que não pedem financiamento em nome pessoal. “Precisamos sempre mais para socorrer a população. Nunca pedimos para nós, quando pedimos é para a instituição, para prestar socorro ao próximo”, frisa.
Os bombeiros “são aqueles que socorrem no imediato, os que prestam auxílio, desde apoio social ao socorro, e têm uma porta aberta 24 horas por dia”. As pessoas “dirigem-se sempre aos bombeiros”, quando têm problemas e, por isso, “consideram a instituição mais importante do concelho”, entende o comandante.
Carlos Ferreira diz que o grupo que comanda são “uns verdadeiros heróis”. Apesar de estarem sujeitos à crítica, reforça que “por detrás da farda estão homens e mulheres com sentimentos, muitas vezes para socorrer deixam a sua família e do lado de lá nem sempre têm a perceção disso”.
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