Domingo, 19 de Janeiro de 2025
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

O Douro é mais que paisagem

Naturalmente, dir-se-á. Em fim de vindimas, em dia de Festival (14ª Feira do Vinho e do Azeite) da Aldeia Vinhateira de Provesende, a afirmação ganha mais sentido.

Felizmente que esta mantém a sua animação, sempre por esta altura, tal como Favaios também celebrou o seu moscatel há duas semanas. Aliás, todas elas mantêm alguma dinâmica, por força dos seus autarcas ou da integração na Rede de Monumentos do Vale do Varosa. Barcos, com o seu românico; Trevões, com a talha dourada; Salzedas e Ucanha com a sua ligação aos Monges de Cister; todas elas com forte ligação ao vinho e a uma boa gastronomia.

O convívio em Provesende proporcionou interessante troca de impressões sobre a (des)valorização dos vinhos do Douro que alguns persistem em continuar. Vá-se lá saber por que razão ou razões se ouve falar em 200,00€ a pipa para o vinho DOC Douro? E produtores a vender as uvas sem preço! Como será possível? Incompetência de uns? Malvadez ou boicote de outros? Afinal, aqui, neste Douro que arranca vinho das encostas íngremes da “montanha deserta que os homens transformaram em jardim suspenso”, como diz Jaime Cortesão, continua a dar-se muita pouca atenção ao construtor da paisagem. Neste setor parece haver muita distração por parte de quem devia ser porta-voz dos problemas, dos anseios da região. E o Douro continua a não ser capaz de se sentar à volta de uma mesa para depois se fazer ouvir no Terreiro do Paço. Ah, Paladinos!…

Aquando da inauguração do Museu do Douro, alguém lembrou quatro valências da região do Douro: “Vinho, Cultura, Turismo e Paisagem”. Faltou uma, sem a qual nunca teria havido “País Vinhateiro”, com a paisagem da vinha, a cultura a ela ligada, o turismo, à volta, ou não, do “oinos” – vinho. Faltou o que Cortesão, António Cabral e Barreto não esquecem nos seus escritos – o Homem. Como também não o esqueceram os que conceberam o Museu do Douro, que tão bem interpreta a região – museu do vinho, do território onde esse vinho se produz e da comunidade que o produz. A parábola da vinha, lembrada a propósito em Provesende, mostra como o dono da vinha compensou igualmente todos os que nela trabalharam. Por este Douro, tal não acontece. E o Estado, distraído, não faz o que lhe compete – ter especial atenção para com os que menos capacidade têm de se defender – os membros da tal comunidade que “com as mãos ossudas e calosas, com muito suor” (A: Cabral) se tornaram jardineiros da paisagem.

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