E em tempos de mudanças, de procura de novos caminhos e soluções para a vida em sociedade, torna-se ainda mais clara a sua importância. Chamaram-lhe “Lugar Comum”. E terão as suas razões. Desde logo pelo que nos propõem: “descoberta e construção de conhecimento”, em comum. No local de trabalho de cada um, mas de igual modo, no local onde se vive o dia-a-dia, seja de trabalho, de lazer, de exercício da cidadania. Descoberta e construção mais conseguida porque com apoio de pessoas com estudo e reflexão sobre os temas que têm vindo a ser tratados.
Na semana passada, foi desconcertante ouvir o professor Álvaro Domingues, da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, dissertar sobre o tema “A paisagem, entre o urbano e o rural”. Desconcertante será um qualificativo benigno. É que, em certos momentos, mais parecia um ataque ao mundo rural. Pela preocupação em desconstruir conceitos que fomos criando, ou que deixámos que construíssem nas nossas cabeças através dos tempos. A apresentação de um mapa de Portugal, bem marcado por um momento em que o meio rural era apresentado como um espaço eivado de bucolismo, romântico, de pessoas humildes, trabalhadoras e nada reivindicativas, testemunha bem esse tempo. E ao lado, a cidade, densamente povoada, sede dos poderes – políticos, económicos ou religiosos -, com exigências muito concretas de planeamento e de definição dos espaços para o edificado e as infraestruturas. O conferencista soube evidenciar como aquilo que poderiam ser as marcas de uma paisagem urbana e as de uma paisagem rural já não são tão distintivas como aparentemente pareciam e se esbateram. Pelos vistos, urbano e rural já não são “polos opostos de uma dicotomia”.
Interessante foi ver, dois dias depois, Jonathan Minchin, do Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha, tratar o tema “Ecologia: a Procura da Sustentabilidade”. E se no primeiro dia, a certa altura, podíamos ter ficado com a ideia de que o rural já não existe, a verdade é que nesta conferência se valorizou, e muito, tudo o que nos aproxima da natureza para uma vida assente em exigências de sustentabilidade.
A dicotomia entre urbano e rural atenuou-se. Será pacífico. Mas continua a ser verdade que existem assimetrias, em densidade populacional, em atividades económicas, em forma de vida, em proximidade do poder. Porventura, também, em participação cívica. Daí, a legitimidade da pergunta: mas como responder aos desafios, às exigências das pessoas que, dia após dia, constroem o Lugar Comum, em sociedade e esperam dos decisores boas soluções? Afinal, desconstruir, em termos conceptuais, o urbano e o rural pode ser a lógica de uma evolução. Mas há problemas que exigem soluções concretas.