Num comunicado publicado em junho de 2020, o Bloco de Esquerda de Vila Real insurgiu-se de forma clara contra o contínuo desleixo a que é votado o património edificado da cidade e do concelho, por sucessivos autarcas, há umas boas dezenas de anos.
Quem o leu, terá notado que uma das matérias focadas, tratava do destino a dar à Calçada à Portuguesa que, durante cerca de 70 anos, foi um dos elementos que deu vida e valor artístico à então Avenida Carvalho Araújo.
O Sr. Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, alcandorado na opressiva maioria absoluta que legitimamente obteve nas eleições autárquicas de 2017, opinou, com uma ironia a roçar o ridículo, que a Calçada à Portuguesa era um elemento estranho às características da cidade e que o que valia a pena valorizar era e cito “a Calçada de Vila Real…”!
Para além de, tal como todos os vila-realenses, exceto um, desconhecer a existência de uma Calçada com o nome identitário – Calçada de Vila Real – não deixo de considerar bizarro ou mesmo chocante esta pretensiosa exibição do autarca.
Além do mais, não deixa de ser arrogante desvalorizar um comentário crítico construtivo que sugeria um aproveitamento novo dos milhares de pequenos cubos que embelezaram a cidade durante tantos anos, podendo assim repor, noutro contexto artístico, uma mais-valia estética, no burgo.
Provavelmente o Sr. Presidente ignora que a Calçada à Portuguesa é Património Nacional com larga tradição na valorização de tantas cidades de tantos países: Lisboa, Porto, Copacabana, Póvoa de Varzim, Gibraltar, Cabo Verde, Macau, Açores, Luanda, Curitiba/ Brasil, Moçambique, Estados Unidos, Braga, Coimbra, Viseu, Mangualde, etc. Seja nas calçadas, seja em verdadeiros painéis artísticos.
Sublinhe-se, ainda, que, recentemente, foram divulgadas notícias focando a preparação de uma candidatura da Calçada à Portuguesa, a património imaterial da humanidade, na Unesco!
O exemplo, em Lisboa, de homenagear Amália Rodrigues com um painel construído com Calçada à Portuguesa faz sobressair, lamentavelmente, o mau gosto do Presidente do município de Vila Real.
Mas, nada disto nos deve surpreender, pois tem sido óbvio e recorrente a delapidação e o desinteresse do que possa ser considerado património, na nossa cidade, e no concelho, por parte das autoridades camarárias.
Há uma inexplicável sofreguidão em destruir o necessário e o desnecessário para voltar a construir, a maior parte das vezes para ficar pior!
Vejam a escandalosa transformação da anterior Praça Luís de Camões!
Aquele que era um espaço equilibrado e harmonioso, onde coabitavam exemplarmente a água, a terra e a pedra, com a particularidade de garantir uma sintonia artística, aberta e airosa da monumentalidade do palácio da Justiça à Avenida Carvalho Araújo, foi completamente delapidada e transformada numa espécie de anfiteatro suportado por um incrível muro que fecha completamente a ligação da antiga praça com a Avenida.
Que falta de gosto!
É bem triste termos gente assim a governar o nosso concelho.
Enquanto cidadão interventivo e crítico, lamento profundamente esta espécie de pandemia destrutiva que afeta a cidade, não resistindo em perguntar ao Presidente da Câmara de Vila Real qual das diversas pedras que irão ser aplicadas na pavimentação da ex. avenida Carvalho Araújo é a que representa, efetivamente, a “Calçada de Vila Real”?