Sábado, 5 de Outubro de 2024
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Os prejudicados do lítio

Na Edição 3677 deste jornal, há 15 dias, o Senhor Armando Moreira, no seu habitual artigo de opinião, manifestava a sua perplexidade perante a relutância das populações de Barroso em permitirem a exploração do lítio.

Esta seria uma grande fonte de riqueza para proprietários de terrenos e para toda a população em geral.

Manifesto, agora eu, total perplexidade diante desta tese, para nós, em Barroso, um belo canto de sereia para ingénuos. Veja-se o que tem acontecido nas zonas exploradas e o progresso que ali jorrou, como vivem tão bem os trabalhadores mineiros! Ninguém é contra o lítio e a sua exploração, mas tem de se fazer onde se pode fazer. A exploração do lítio é um processo com muitas falácias, embustes e dúvidas desde o início. E nem falo da atribuição de algumas licenças, com todos os contornos de um autêntico cambalacho congeminado nos gabinetes ministeriais.

Desde o início se vendeu bem a ideia de que Portugal tem as maiores reservas de lítio da Europa. Até pode ser verdade, mas é estranho que os grandes países europeus, ricos em tanta coisa, só são pobres em lítio. Gostava de ver a União Europeia a apresentar dados sérios sobre este assunto. Depois, lembro que, desde o início deste malfadado processo, os geólogos estão profundamente divididos. Muitos consideram a exploração mineira em Barroso muito custosa, pouco rentável, para o ínfimo lítio existente. Por outras palavras, face aos danos provocados, não se justifica explorar lítio em Barroso.

O maior espanto continua a ser a indiferença e a ligeireza como se passa por cima de uma região que está classificada como património agrícola mundial e reserva da biosfera, onde se vai permitir uma exploração mineira de grandes dimensões, que vai destruir o ambiente, os pastos do gado, os virgens recursos hídricos, a flora, a paisagem, o ar puro, e perturbar profundamente a saúde e a vida das populações autóctones. É um monumental disparate, um perverso atentado à região, que diz muito da incompetência governativa de que enferma o país. Então classifica-se a região como património agrícola e depois permite-se uma extração que destrói a agricultura e a criação de gado?

Quanto aos empregos prometidos, ninguém os leva a sério. Belos contos exemplares de capitalistas. E não acenem com astuciosos benefícios às populações, quando lhes estão a destruir a verdadeira fonte da sua riqueza e a sustentabilidade e valor duradouro da região. Custa ver quem são os verdadeiros prejudicados?

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