Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2024
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Luís Pereira
Luís Pereira
Historiador e Arqueólogo. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Ostracismo democrático

Quando se normalizam comportamentos ditatoriais numa democracia então algo está mal e a democracia regrediu perante os nossos olhos.

Aceitar livremente que um cargo de liderança normalize o uso de intimidações, pressões, suspeita nos seus funcionários, colaboradores ou pares são sinais de prepotência no funcionamento de uma instituição, empresa ou trabalho. Neste mundo complexo existem pessoas que aceitam a condição de viver comandadas pela vontade da outra pessoa e outras esperam ser lideradas democraticamente por alguém que respeite as imperfeições e limitações de cada um, aproveitando as melhores capacidades para desenvolver e fazer crescer enquanto grupo, enquanto equipa de trabalho e enquanto humanos. A normalização de comportamentos desviantes de liderança é o dia a dia da nossa sociedade.

Tornou-se banal a suspeita de abuso de poder político, de fugas de informação durante uma investigação judicial e alertas atempadas sobre buscas policiais, dando assim a desculpa perfeita ao suspeito que afinal de contas é o lesado de uma cabala política ou de um ataque pessoal! Normalizou-se como atentado cobarde à pessoa que vigia os seus subordinados com todo o tipo de mecanismo, seja à porta fechada num “confidencial agreedment” ou à vista de todos através a vitimização do abusador e não do abusado.

Denunciar estes comportamentos tornou-se a luta mais sangrenta que pode haver na defesa dos direitos humanos, perdendo a credibilidade numa luta a sós, pois a maioria prefere encolher os ombros e aceitar a normalidade de ser pisado do que respeitado enquanto se espera que o dia de trabalho chegue ao fim. O perigo na democracia também é apelar aos agentes de autoridade mais violência e não ensinar, consciencializar o que é ser livre num mundo com regras, participar na sociedade e não confrontar a sociedade, viver em comunidade e não fechar em etnias, bairros ou guetos criados para afastar da sociedade pessoas com outras crenças e nacionalidades. Dizer que o mundo só anda tendo à frente um capataz (José Afonso 1976) é algo desajustado no séc. XXI, pois já passaram os ciclos ditatoriais, revoluções, guerras imperialistas e de superioridade. No entanto, a história repete-se e assiste-se a jogos de interesses na fronteira Oriental da Europa e o extermínio de povos na Bacia do Mediterrânio. Então o que falta na educação social das novas gerações quando é aceite a impunidade do abuso de poder, o incentivo à discriminação social e quando a pessoa que está à frente da liderança dá o exemplo errado? Deve-se procurar as raízes do conhecimento e se ainda temos democracia, então mergulhemos nas origens para encontrar respostas para a aplicação de uma democracia do ostracismo para quem atente contra a liberdade pública, proibindo qualquer cargo político ou de chefia, e esperar que a justiça não seja totalmente cega nem lenta o suficiente para apurar as responsabilidades.

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