Quis o acaso que em outubro de 1952 eu entrasse no Seminário de Santa Clara, em Vila Real, como aluno. Em 24 de janeiro de 1953, saiu nesse jornal uma notícia que só interessava a Codeçoso, da freguesia de Meixedo, do concelho de Montalegre. Passara eu a ler esse jornal, dirigido pelo abade da Sé, Henrique Maria dos Santos. Já não sei como tinha eu acesso a esse jornal. Sei que fiz dele uma espécie de bordão que me guiava entre o sigilo do seminário e o contacto com o mundo exterior. Um dia tive coragem de chegar à fala com o diretor do jornal para lhe pedir que me deixasse escrever notícias da minha terra. E ele acedeu, amavelmente, como se eu já fosse alguém. A primeira notícia, assinada com o C de correspondente, referia-se ao batizado de «uma criança do sexo feminino, cujo padrinho, Joaquim Alves Rosa, era o Presidente da Junta da freguesia. Após as cerimónias religiosas foi oferecido em casa dos pais do neófito, um grande almoço». Esta primeira notícia, com 67 palavras, abriu o meu contacto com o exterior. Mostrei o jornal aos meus colegas que logo me questionaram, enrascando-me: – «que significa «neófito»? – ide ver ao dicionário…»
De facto, o diretor percebeu que eu queria dizer aquilo. Mas a magreza do meu vocabulário não dava para mais… Um «incidente» que me serviu de lição.
Dia 30 de junho de 1962, completava dez anos de seminário. E esse dia coincidiu com a entrega dos prémios dos I jogos florais do Clube de Vila Real. Eu havia concorrido com uma reportagem regionalista sobre «Uma chega de bois em Barroso». O prémio foi de mil escudos que, em 1962 me deu para me reintegrar na sociedade, até arranjar emprego na Barragem de Pisões.
Nunca mais esqueci esses difíceis 10 anos, tão verdade como nunca mais deixei de colaborar em muitos jornais, em revistas, em antologias. Ainda hoje sou viciado nesta militância porfiada que me abriu as portas da comunicação social. Nos 64 anos de intensa produção formativa e informativa, um pouco por órgãos de todo o país, pude ajuizar dos progressos por que passou o setor. Sou do tempo dos carateres de chumbo, manualmente escolhidos no tabuleiro, passando pelo offset, pelo digital e deixando para trás as velhas máquinas de escrever, os telexes e os faxes, para os teclados, as tabletes, os emails e o mais que virá.
Do mesmo modo o salto qualitativo dos jornais impressos em papel, como A Voz de Trás-os-Montes que, cada vez mais, se pode reclamar o mais atrevido e competitivo de entre os Transmontanos. Comparei-o, há três semanas, com o Diário de Notícias, mormente com a edição dos resultados eleitorais. Também dele fui correspondente nos anos 60/70 do século XX. A minha tarimba jornalística de 64 anos ininterruptos, confere-me o estatuto de jurado insuspeito.