Esta feliz iniciativa, tomada há alguns anos, por uma das comissões de festas que, ano após ano, organizam as festividades de agosto, merece o nosso reconhecimento.
Trata-se de uma cerimónia simples, mas carregada de grande significado, na qual participa a banda de música contratada para abrilhantar a festa que, interpretando uma composição musical apropriada ao ato, na circunstância uma marcha fúnebre, inicia a sua ação posicionando-se nas traseiras da Igreja Paroquial, caminhando de seguida, em passo cadenciado, até ao interior do cemitério, para aí permanecer por alguns instantes, atuando com toda a solenidade e empenho, ao mesmo tempo que numa postura ritualizada se vai virando, respeitosamente, para ambos os lados do espaço cemiterial numa atitude reverencial em homenagem a todos quantos ali dormem o sono eterno. Local onde a saudade geme e suspira aos murmúrios do vento solitário, como refere, na sua poesia ultrarromântica a nossa ilustre poetisa D. Catarina Máxima de Figueiredo.
Ao regressar este ano às origens, não quis perder a oportunidade de assistir a esta singela homenagem que, pela sua originalidade e pelo que ela encerra em si mesma, me comoveu profundamente e me trouxe à memória as palavras sábias e genuínas de minha falecida mãe, que ali jaz há 28 anos, e que em vida fazia sempre questão de presenciar e louvar tão bela homenagem. Dizia-nos que ficava sem palavras e muito sensibilizada durante o decorrer da cerimónia tal era a emoção que a tocava, não deixando de recomendar a nossa participação naquele simples, mas significativo ato de homenagem aos que já partiram para a vida eterna.
Esta cerimónia acontece, no último dia de festa, na segunda-feira de manhã, antes do regresso à Capelinha do Santuário de Nosso Senhor dos Aflitos, dos andores deste Santo Padroeiro e do de Santa Bárbara e tem sido marcada ao longo dos anos pela participação assídua da Banda de Música de Lalim, como este ano, mais uma vez, aconteceu.
Lamenta-se que apenas uma pequena minoria marque presença nesta comovente homenagem. Será porque nos tempos que correm em que o materialismo, do mundo moderno, vai ganhando terreno à espiritualidade que sempre caracterizou as nossas gentes?
A verdade é que ninguém pode ficar indiferente a acontecimentos desta natureza, quaisquer que sejam os credos religiosos de cada um, porque o sentimento humano faz parte da essência humana.