A história do Vinho dos Mortos remonta ao ano de 1808, aquando da 2ª Invasão Francesa.
De forma a tentar proteger o seu território e património, a população de Boticas escondia os seus pertences mais valiosos, incluindo o vinho, que foi enterrado no chão das adegas, debaixo das pipas e dos lagares. Mais tarde, os habitantes recuperaram as casas, os seus bens e os vinhos que outrora enterraram. Quando o fizeram, julgaram que este estaria estragado, no entanto, descobriram que, pelo contrário, tinha adquirido propriedades inusitadas, ficando mais saboroso, devido ao processo de fermentação natural durante o período em que ficou enterrado. Um vinho que foi produzido a uma temperatura constante, tornando-o mais apaladado e gaseificado.
É um ex-libris de Boticas que se designa, até aos dias de hoje, como “Vinho dos Mortos” por ter sido “enterrado” e, desde então, passaram a utilizar esta técnica, pelo menos durante um ano, para melhorar a sua qualidade e consistência.
Nuno Pereira, produtor do Vinho dos Mortos, desde criança que ajudava os pais neste processo e acabou por ficar com o negócio da família. Em 2021 fez um rebranding da marca e, desde então, está mais dedicado ao projeto.
Considera que o vinho tem evoluído e explica que “é um vinho mais estruturado, mas continua a ser feito a partir das uvas das vinhas centenárias. Todo o processo é manual. “Depois de vindimar, fazemos a pisa a pé em lagares graníticos e é feita a fermentação em lagar e posterior engarrafamento”.
A tradição de “enterrar” o vinho foi-se transmitindo de geração em geração, no entanto, atualmente, há poucos agricultores que a cumprem. Nuno confessa que “mantemos esta tradição e enterramos o vinho no chão da nossa adega”. Depois de cumprir o prazo mínimo de cerca de oito meses debaixo de terra, é retirado conforme “houver necessidade para venda”, explica.
Ao longo dos anos apostaram na divulgação, tanto a nível nacional como internacional, tendo atingido uma grande procura, principalmente na época de verão, na altura do Halloween e no Natal. Mas salienta que “tem esgotado mais rapidamente e, neste momento, o stock que temos é apenas para eventos de divulgação e promoção. Só voltará a estar à venda quando a nova colheita estiver pronta”.
Com uma produção limitada, e cerca de quatro mil garrafas da colheita de 2022, Nuno confessa que “tem havido uma maior procura por este produto”.
Falar no Vinho dos Mortos é falar de Boticas, uma imagem de marca do concelho que tem tido cada vez mais sucesso e procura.