E quando a banda chega a Castelão, logo se entranham nos ouvidos o chocalhar dos pachorrentos bois. Há mais de cinquenta anos que este cenário de vida rural continua a oferecer encantos aos músicos.
Num mundo de recordações imperecíveis, Castelãos é o paradigma de um lugar que nunca se esquece. Aqui, permanece a gratidão cúmplice. A banda pretende como sempre, agradar procurando corresponder à população ávida em ouvir os seus músicos.
Músicos sem conta já partiram para o mundo do eterno e levaram consigo imagens de Castelãos. Castelãos é o símbolo de uma aldeia com gente hospitaleira que se inscreve no dever da repartição e da solidariedade.
Como começou este enlace de cumplicidade fraternal?
Mateus gozou sempre de grande fama e popularidade na região do nordeste transmontano. Banda disputadíssima entre as melhores. Atualmente, num universo rico de filarmónicas, a escolha recai invariavelmente em Mateus, por uma história assinada em pérolas brilhantes e que ainda hoje desperta o entusiasmo das “gentes” onde a natureza se sobrepõe aos artifícios da ostentação gratuita e da vã hipocrisia.
Como tudo começou? Numa das primeiras deslocações da Banda de Mateus a Castelãos, uma jovem de 18 anos – Luísa Frederico – foi fulminada por morte prematura. Tragédia em dia de festa. Na chegada, sentiam-se rostos pejados na dor coletiva. Os músicos, solidários, quiseram incorporar-se no funeral.
Ao atacarem a “Rainha das Marchas Fúnebres, tocada em pungentes sons, as lágrimas imortalizaram a cumplicidade entre Mateus e Castelão até aos dias de hoje.
Quem melhor pode descrever os sentimentos da alma nos seus desígnios, senão a música pela glorificação do ato criador de mestres diplomados ou não que souberam passar testemunhos da arte consagrada na pujança da pura paixão?
À luz da vela se fizeram os maiores símbolos da banda, insignes mestres e músicos que horas a fio se deleitavam a estudar música como reza em oração lídima.
A escassez de comida desses tempos abria outros apetites despertando sensibilidades, demandando outros horizontes.
O préstimo fúnebre acompanhado pela banda foi um espaço de ligação que contagiou a multidão. Alguém descreveu a desditosa, despojada precocemente da vida, lembrando os seus cabelos cor de centeio na terra que a viu nascer.
Daqui a cinquenta anos, um, dois séculos, o nome de Mateus será evocado e soará em consonância com a mensagem de amor presa aos encantos do diapasão maravilhoso da música… No alvor melancólico das manhãs, ainda hoje há quem se lembre da jovem de Castelãos!