Terça-feira, 21 de Janeiro de 2025
No menu items!
Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

A jovem morta uniu Castelãos a Mateus

Por vezes os pensamentos levam-me à lembrança epopeias ocorridas na Banda de Mateus, convidam-me a reencontros com um passado fantástico.

E quando a banda chega a Castelão, logo se entranham nos ouvidos o chocalhar dos pachorrentos bois. Há mais de cinquenta anos que este cenário de vida rural continua a oferecer encantos aos músicos.

Num mundo de recordações imperecíveis, Castelãos é o paradigma de um lugar que nunca se esquece. Aqui, permanece a gratidão cúmplice. A banda pretende como sempre, agradar procurando corresponder à população ávida em ouvir os seus músicos.

Músicos sem conta já partiram para o mundo do eterno e levaram consigo imagens de Castelãos. Castelãos é o símbolo de uma aldeia com gente hospitaleira que se inscreve no dever da repartição e da solidariedade.

Como começou este enlace de cumplicidade fraternal?

Mateus gozou sempre de grande fama e popularidade na região do nordeste transmontano. Banda disputadíssima entre as melhores. Atualmente, num universo rico de filarmónicas, a escolha recai invariavelmente em Mateus, por uma história assinada em pérolas brilhantes e que ainda hoje desperta o entusiasmo das “gentes” onde a natureza se sobrepõe aos artifícios da ostentação gratuita e da vã hipocrisia.

Como tudo começou? Numa das primeiras deslocações da Banda de Mateus a Castelãos, uma jovem de 18 anos – Luísa Frederico – foi fulminada por morte prematura. Tragédia em dia de festa. Na chegada, sentiam-se rostos pejados na dor coletiva. Os músicos, solidários, quiseram incorporar-se no funeral.

Ao atacarem a “Rainha das Marchas Fúnebres, tocada em pungentes sons, as lágrimas imortalizaram a cumplicidade entre Mateus e Castelão até aos dias de hoje.
Quem melhor pode descrever os sentimentos da alma nos seus desígnios, senão a música pela glorificação do ato criador de mestres diplomados ou não que souberam passar testemunhos da arte consagrada na pujança da pura paixão?

À luz da vela se fizeram os maiores símbolos da banda, insignes mestres e músicos que horas a fio se deleitavam a estudar música como reza em oração lídima.
A escassez de comida desses tempos abria outros apetites despertando sensibilidades, demandando outros horizontes.

O préstimo fúnebre acompanhado pela banda foi um espaço de ligação que contagiou a multidão. Alguém descreveu a desditosa, despojada precocemente da vida, lembrando os seus cabelos cor de centeio na terra que a viu nascer.

Daqui a cinquenta anos, um, dois séculos, o nome de Mateus será evocado e soará em consonância com a mensagem de amor presa aos encantos do diapasão maravilhoso da música… No alvor melancólico das manhãs, ainda hoje há quem se lembre da jovem de Castelãos!

OUTROS ARTIGOS do mesmo autor

NOTÍCIAS QUE PODEM SER DO SEU INTERESSE

ARTIGOS DE OPINIÃO + LIDOS

Notícias Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS