Temos clubes em claro destaque, como é o caso do Benfica, Sporting, F. C. Porto, Sp. Braga, que efetivamente vão lançando jogadores da formação com o claro intuito de “aproveitamento desportivo” conjuntamente com valorização futura.
De resto, e nas divisões distritais e campeonatos não profissionais, a realidade é totalmente diferente.
Isto, porque ao longo dos anos, e de forma orquestrada e desregulada, a maioria desses clubes vai perdendo os seus melhores elementos das camadas jovens para os clubes ditos grandes, acabando por ficar um vazio competitivo, incompreensível.
Os clubes ditos grandes, apostam forte na presença junto aos clubes mais pequenos, aos quais decidem agregar o maior número de jogadores possíveis, evitando que desde novo, sigam o rumo dos clubes formadores rivais.
Muitos dos protocolos com os clubes “mais pequenos” transformam-se numa ilusão. São assinados, muitas vezes em contrapartida de equipamento antigos e bolas já usadas.
E do outro lado, as promessas assentes em crenças de muitos pais de que o melhor para os filhos é estar num clube grande, do que num mais pequeno, sem que essa ideia tenha qualquer sustentação científica e real, vai-se criando um vazio difícil de ultrapassar, principalmente porque o ponto inicial é o próprio clube pequeno.
Assim, acredito ser difícil encontrar razões para um clube de recursos limitados investir dinheiro, tempo em recursos humanos, sabendo que nunca ficará com os melhores jogadores, que nunca tirará os maiores proveitos desse processo/investimento e que está constantemente ameaçado pelos caprichos dos mais fortes.
Logo, e como uma bola de neve, quem paga são os outros milhares de jovens que ficam entregues a clubes, pessoas e organizações desmotivadas, resignadas e fechadas a uma realidade que ajudam a criar.
Assim, enquanto os ditos grandes clubes, com supostas e excelentes academias persistirem nesta procura desenfreada de talento, num processo transversal em Portugal, mais os clubes pequenos se afundarão no comodismo, mais as pessoas se afastarão, e o provável é que a formação nos contextos mais desfavorecidos continue a perder.
Sou da opinião que contribuir desportivamente só para mostrar, que existe o protocolo A ou B com clubes grandes, praticamente sem contrapartidas, não é grande estímulo.
Estará a formação nos clubes pequenos ameaçada nesta época e nas próximas? Eu começo a acreditar que sim, porque devemos guiar-nos por valores e objetivos maiores, dando impulso aos processos e aos investimentos dentro dos clubes pequenos e não ficarem reféns de uma prática que claramente não favorece os pequenos.