O bispo católico, em entrevista à agência Ecclesia, a propósito do seu livro “O lado de cá da meia-noite”, sublinhou a importância de se “fazer a experiência” da proximidade às pessoas e da visita aos locais mais isolados, para decidir não só com base em “relatórios e papéis”.
“Tenho dito aos políticos que aqui vêm e falam comigo: façam esta experiência. A Assembleia da República devia fazer esta experiência e depois não sei se fariam a leis que fazem. A política nacional, central, deveria debruçar-se sobre estas realidades, não recebendo papéis e relatórios, porque isso não dói nada”, afirmou António Couto.
Na ocasião, o bispo de Lamego lamentou também que a sociedade trate os idosos como “canalha” e que se queira resumir a Bíblia a um livro de fé.
Criticando a “cultura dominante” que procura “caminhos alcatroados, de modas que mudam”, o prelado sublinhou que “há muitos caminhos alcatroados, mas os caminhos a fazer – o da estupidez para a inteligência, da maldade para a bondade – são caminhos longos, levam muito tempo porque dá muito trabalho passar do ‘eu’ para o ‘eis-me’. Requer uma disponibilidade que não experimentamos”.
Voltando-se para o interior da própria igreja católica, o bispo disse desejar uma “Igreja mais familiar”, uma “Igreja a fazer-se” em detrimento de o “fazer coisas na Igreja”, assente em pilares como “o Evangelho, a evangelização, a caridade”, e não os eventos programáticos.
“Fazer coisas na Igreja é mais fácil, e é o que andamos a fazer. Apostamos quase tudo no fazer coisas na Igreja porque é mais fácil de manter: continuar a limpar o altar, os bancos, lidar com coisas, procurar pessoas para as flores, para dar catequese… Estamos sempre no mesmo, a fazer coisas na Igreja. Os párocos ficam felizes quando têm a Igreja organizada, mas penso que estamos a brincar com coisas secundárias – é preciso muito mais”, disse.