É óbvio que uma pandemia com as caraterísticas da Covid-19 nunca terá acontecido. Houve várias do género. E esta coincidiu com o I século da Gripe Espanhola.
Mas só a visão fotográfica permite imaginar a gravidade e a dimensão da doença. Pouco mais se terá sabido com a medicação, apesar da evolução técnica, quer em meios específicos quer humanos.
Não será correto culpar o poder político pelos atrasos científicos, porque a eficácia implicou testes de longa duração.
Mas já não deverá desculpabilizar imposições e normas cívicas que requerem coerência, senso, justiça e pluralidade.
Um exemplo claríssimo deu-se com a proibição da venda de livros nas livrarias.
No dia 14 de janeiro, a Lusa distribuiu uma notícia na qual se afirmava: «Supermercados não vão poder vender livros, roupa nem objetos de decoração».
O jornal Público de 5 de fevereiro escreveu: «Hipermercados e Fnac podem vender discos, mas não livros – embora vendam alguns».
O Diário de Notícias de16/2/2021 adianta que «Livrarias que só vendam livros são as únicas que não podem abrir».
A verdade é que, a seguir a estas decisões do governo, chegou uma outra resolução do poder político que tomou uma interpretação que baralhou a opinião pública e chegou a exigir esclarecimentos do PR e do Primeiro Ministro. Esta última decisão transferia a venda de livros para os supermercados e grandes superfícies, proibindo as livrarias de vender aquilo que dá nome às empresas próprias desse produto.
Esta resolução veio perturbar a opinião pública que baralhou e entristeceu os livreiros, favorecendo os supermercados, estes sim, favorecidos com tudo o que dá lucro e que é, obviamente, uma decisão injusta, insensata e incompreensível.
O governo de António Costa habituou-se a exaltar tudo «como altamente positivo», quando ainda lemos e ouvimos que Portugal foi, durante semanas, o mais mortífero do mundo.
Um Primeiro Ministro que aprova e impõe coimas às livrarias que só vendam livros, encerrando-as quando deveriam estar abertas, como exceção, para promover a cultura, demonstra que não tem hábitos de leitura, que protege os fortes contra os fracos e que deixou cair a máscara do vazio cultural.■