Os médicos dessas instituições só têm vantagens em envolver-se no ensino e para melhor exercerem essa função, abraçarem uma carreira universitária. Se assim for, valorizam-se e valorizam a instituição.
É, contudo, preciso que fique bem claro que da mesma forma que a “bata branca” não faz um médico, um médico hospitalar, por melhor que seja e por mais bem preparado que esteja, também não é um professor universitário. Este não é um sábio mas tem que ter sabedoria que vá para além da competência profissional, exige cultura geral, científica, humanística, médica, de sentido ético e princípios de cidadania. Especificando melhor, pretende-se que possua mentalidade científica e de rigor, capacidade de raciocínio e de análise, imaginação criadora, aptidão para continuar aprendendo, adaptação crítica a novas situações, liderança e talento na condução de processos sociais, domínio das novas tecnologias da informação e, cada vez mais na era da globalização, a capacidade de comunicação e o domínio de línguas. Não esquecer que o nosso objetivo principal é produzir médicos capazes e cultos, mas também homens de ciência e cidadãos de corpo inteiro. Claro que nem todos os médicos têm interesse pela ciência e/ou pela investigação, estes estarão mais vocacionados para exercerem a medicina prática do dia a dia. Ortega y Gasset foi muito claro: “…é preciso separar o ensino profissional da investigação científica… o médico que quer aprender a curar e nada mais que não faça flirtes com a ciência…”. A massificação das instituições de saúde está a gerar a funcionalização dos médicos que, sem ciência se podem converter em técnicos, máquinas de tratar doentes mas incapazes de inovar, de detetar novos problemas ou de descobrir onde se produzem. Os médicos sem cultura científica não podem ser bons médicos porque não saberão encontrar soluções fora das “guidelines” e dos “protocolos”. Para estes, os algoritmos substituíram o estudo e a capacidade crítica. A individualização do ato médico não se pode perder, porque constitui a essência da medicina. Esta exige uma sólida formação ética e uma não menor capacidade critica. O permanente “massacre” diário que as televisões nos deram durante a pandemia, com médicos e hospitais, deu-me por vezes a sensação de que estávamos perante fábricas de reparar doentes! Sabemos que não é assim porque como nos diz Cristina Robalo Cordeiro: “Um hospital não será jamais, sem negar a sua essência, uma fábrica onde o médico, depois de ter picado o ponto, vai tratar a quantidade de material humano que lhe foi destinada…Há também o coração humano com os seus recursos inesperados, as suas surpresas e as suas deceções”.