Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025
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Rodrigo Sá
Rodrigo Sá
Engenheiro

O interior também é um estado de espírito

Na passada segunda-feira aconteceu o Prós e Contras em Vila Real, emitido a partir do Teatro Municipal, subordinado ao tema do despovoamento do interior.

A escolha da localização, pela RTP, vem confirmar que o caminho de afirmação da nossa cidade no panorama nacional é efetivo e tem consequências positivas. A presença de Vila Real durante duas horas no canal público de televisão, em horário nobre, é muito importante. 

Desde então tenho percebido, por alguns comentários, que as expectativas eram elevadíssimas! Aparentemente havia quem acreditasse que seria um programa de televisão, em Vila Real, a resolver em duas horas aquilo que os governos não conseguem resolver há décadas. Ouvi até que não houve no programa propostas concretas por parte dos autarcas ou convidados. Destas críticas dou desconto aquelas que têm motivações políticas, evidentemente. 

A RTP, de forma equilibrada, colocou em palco autarcas do PS, PSD e CDU, mas ao nível local os adversários políticos só viram Rui Santos. É natural. É também um bocadinho mesquinho e invejoso, mas é natural. 

Regressemos às propostas ou falta delas. Ouvimos frisar a necessidade de colocar os instrumentos financeiros, nomeadamente os fundos comunitários, ao serviço da convergência do interior com o litoral, acabando com a vergonha de mais de 90% dos projetos aprovados no Norte, estarem no litoral. Ouvimos sugerir a deslocalização de algumas direções gerais de Lisboa para territórios que precisam muito mais delas, quanto mais não seja pela criação de postos de trabalho. Ouvimos propor-se a criação de uma política fiscal radical que faça de facto a diferença e favoreça os territórios de baixa densidade, na altura de atrair investimento. Ouvimos a proposta da localização estratégica dos grandes investimentos privados no interior, como no caso da empresa aeronáutica Brasileira Embraer, em Évora. 

Da parte do Ministro Eduardo Cabrita, infelizmente, não ouvimos as respostas concretas a perguntas concretas. Uma prestação que tinha obrigação de ser um pouco melhor, até porque o governo que integra tem apresentado boas propostas de combate às dificuldades da interioridade.

E dos convidados, ouvimos casos de sucesso, de diferentes dimensões e fileiras, que nasceram e cresceram no interior. Excesso de otimismo, disseram alguns. “Até parece que está tudo bem no interior”, disseram outros. Bom, talvez, mas são exemplos. Bons exemplos. Não há vinha em todo o interior, mas há cereja no Fundão, fumeiro em Vinhais, ou seja, a fileira agroalimentar endógena pode e deve ser explorada. Tal como o artesanato e o turismo ou as parcerias com o ensino superior. E há jovens no interior, como a Joana Lopes ou o Daniel Pera, que são dinâmicos, inventivos e empreendedores. Estes estão em Vila Real, mas como eles há muitos por esse interior fora. Teria sido melhor fazer um choradinho de duas horas, reforçando perante todo o país a ideia que eles já têm sobre o interior? Que somos pobres, dispersos e envelhecidos? Sim, os territórios do interior também são isso, mas o desafio é alterarmos essa realidade, acreditarmos no nosso potencial e olhar para a frente, não para trás.

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