Uma nota de rodapé, num noticiário da TVI24, do passado dia 13 de abril, segunda-feira, desencadeou uma onda de revolta, em determinados círculos nortenhos, que vale a pena apreciar e reduzir ao seu verdadeiro contexto.
A nota referia: População menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares, justificava, na opinião do apresentador do programa, um maior número de pessoas infetadas por esta epidemia − Covid 19. O apontamento foi apresentado sob imagens das cidades do Porto e Gaia.
Uma das primeiras figuras a reagir foi, naturalmente, Rui Moreira, autarca da cidade do Porto, porque na sua singeleza, este rodapé podia sugerir que as gentes do Porto e Norte são menos educadas do que as do centro e sul do país, onde a gravidade da doença não se tem feito sentir com tanta virulência. Insinuava-se que seria esta idiossincrasia que estaria na base deste aparente descontrole sanitário.
Quem como nós, natural do Norte (interior) e conhecendo relativamente bem a capital do país, por ali ter estado aquando da passagem pela Universidade, percebe que as mentalidades dos lisboetas são em tudo diferentes, das do resto do país. Naquele tempo já se dizia, que enquanto o Norte trabalhava, Lisboa divertia-se. Mas, também se afirmava que a grande percentagem de pessoas que vivia em Lisboa, não era de lá natural. Alfacinhas de gema havia muito poucos, porque, sendo Lisboa a capital, era e continua a ser, o ponto de encontro de pessoas de todo o país, que para ali se deslocam pelos mais diversos motivos.
O que verdadeiramente podemos concluir deste infeliz episódio, é a de que as sociedades do Porto e Lisboa, são naturalmente diferentes, em razão do tecido económico que suporta cada uma destas regiões. A capital, será mais cosmopolita, centrada nos serviços e menos nas atividades produtivas. O Porto é sobretudo o centro de uma vasta região de atividades produtivas, onde se concentram as maiores indústrias, e é o destino final de produções agrícolas com grande peso na exportação, de que são exemplo emblemático as regiões vitícolas do Douro e Verdes.
A ocupação diária da população que vive no Norte, obriga a um tipo de exigência presencial nas unidades de fabrico, que não pode ser substituída por meios eletrónicos.
Isto para significar que o Norte, dada esta idiossincrasia, até pode vir a ser mais penalizado por esta maldita moléstia que se abateu sobre todo o mundo. Mas, o não ter cruzado os braços, será sempre algo que o resto do país, lhe virá a agradecer um dia. Haja consciência disso.