Os comentários de Carlos Moedas, a propósito do incêndio na Mouraria (que infelizmente fez duas vítimas mortais), e relativos à imigração são reveladores de uma inflexão brusca à expectável e normal crítica política. Acresce ainda que, quase em uníssono, Luís Montenegro contribuiu com declarações polémicas sobre a mesma temática, reforçando assim um quadro político mais extremado, resultando em várias interpretações.
A arquitetura política no campo da direita portuguesa constitui um desafio complexo para o PSD (Partido Social Democrata). A reação, esperada e previsível, como uma tentativa de radicalização do discurso político, em matérias sensíveis como a imigração, apesar de constituir uma tendência recorrente dos partidos centro-direita na Europa, em nada belisca a base eleitoral da extrema-direita, valendo uma crítica direta do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, referindo que “declarações muito emocionais em cima de casos correm o risco de ser irracionais”.
A visão de que é necessário um filtro setorial para a imigração, como se o Estado português se comportasse como o recrutador do setor de recursos humanos de uma qualquer empresa, ou mesmo da procura de um “match” cultural com outra comunidade como uma qualquer plataforma digital, é ilustrativo das dificuldades de posicionamento político do PSD no jogo democrático.
As sondagens são apetecíveis, o discurso é ambíguo e a confusão na base social moderada do PSD é evidente, a diferenciação política vem com a coragem de querer fazer diferente sem nunca abdicar do edifício de princípios que os partidos democráticos nunca deveriam pôr em causa.
“As ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a promover o reverso da felicidade”, Stuart Mill.