A vindima de 2021 trouxe uma quebra de produção na ordem dos 4% à escala mundial e há mesmo quem a considere “extremamente baixa” quando comparada com outros anos. Pior só em 2017.
Os dados são da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) que aponta para uma produção entre os 247 e os 253 milhões de hectolitros. Olhando mais ao pormenor, a OIV estima uma quebra de 21% na União Europeia (UE), para 145 milhões de hectolitros, onde Itália, Espanha e França representam 79% da produção e onde são esperadas quebras de 9,14% e 27%, respetivamente.
Esta é uma tendência comum a todos os produtores da UE, mas há exceções. Portugal é uma delas, onde se espera um aumento, ainda que ligeiro, de 1%, para 6,5 milhões de hectolitros, seguido de Alemanha (+4%), Hungria (+6%) e Roménia (+37%).
PORTUGAL EM NÚMEROS
Segundo o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), é esperado que se produzam, em Portugal, 6,5 milhões de hectolitros de vinho. A confirmar-se este cenário, será um crescimento de 1% face à campanha anterior e 2% face à média das últimas cinco campanhas.
As regiões do Douro e Porto (+20%) e do Alentejo (+5%) são as que, em volume, apresentam as maiores subidas homólogas. Em sentido contrário estão as regiões dos Açores (-25%), Lisboa (-15%) e Minho (-15%). As previsões apontam, também, para que as regiões do Tejo e da Madeira apresentem uma quebra de produção de 5% e 3%, respetivamente.
Olhando para 2020, e para a Região Demarcada do Douro, onde existem cerca de 19 mil viticultores, foram produzidos, segundo dados do IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto), 126.316.337 litros de vinho, sendo que a maior fatia (70.540.505) diz respeito a Vinho do Porto DOP. Uma quebra significativa quando comparada com os números de 2019, ano em que se produziram 169.361.109 litros, mas onde o vinho do Douro DOP foi “rei” com 81.778.235 de litros.
Na comercialização, as vendas de vinho do Porto atingiram, em 2020, quase oito milhões de caixas, tendo-se registado uma quebra de 6,7% face a 2019. Já as vendas de vinho do Porto situaram-se nos 4,3 milhões de caixas (- 4%). A maior quebra deu-se no mercado nacional (-31,1% para o vinho do Porto e -8,9% para o vinho do Douro). Já a nível das exportações, o vinho do Porto registou uma quebra de apenas -1,4% e o vinho do Douro cresceu 5,4%.
Para este ano, as expectativas estão em alta. “As vendas de vinhos da Região Demarcada do Douro com DOP/IGP têm tido uma evolução muito positiva em 2021, sendo de destacar que no final do terceiro trimestre as quantidades vendidas de Porto (+14,3%) e de Douro (+11,3%) se encontravam muito acima das vendas do período homólogo de 2020, sem que haja impacto negativo nos respetivos preços médios, que registam acréscimos de 5% e 7,2%, respetivamente”, indica o IVDP.
EXPORTAÇÕES
É para França que Portugal continua a exportar mais vinho. O Top5 fica completo com os Estados Unidos, Brasil, Alemanha e Canadá.
Os vinhos portugueses parecem estar cada vez mais na moda e, prova disso, são os números das exportações. Até agosto, Portugal tinha exportado mais de 215 milhões de litros, o que representa um crescimento de 8,6% e quase 13% em valor, com o preço médio a subir para os 2,70 euros por litro.
É também no mercado internacional que o vinho da Região Demarcada do Douro se tem afirmado, mas, de acordo com o IVDP, “o peso das exportações e do mercado nacional no total de vendas difere significativamente se nos referirmos ao vinho do Porto ou ao vinho do Douro”.
“Desde os primeiros registos das suas exportações (em 1678), o vinho do Porto evidenciou sempre uma vertente eminentemente exportadora. Na segunda década do século XXI, verificou-se a já referida quebra das exportações durante oito anos consecutivos, acompanhada pelo aumento das vendas no mercado nacional entre 2014 e 2019”, lembra o IVDP, acrescentando que “o peso de Portugal no total da quantidade de vinho do Porto vendida cresceu dos habituais 13% a 14% para os 18% em 2019. Em 2020, resultado do impacto da pandemia, o mercado nacional voltou a absorver cerca de 13% da quantidade total vendida de vinho do Porto e perdeu o primeiro lugar no ranking dos principais mercados, lugar que tinha atingido em 2017, ao ultrapassar a França”.
Já no caso do vinho do Douro, “desde 2006 (primeiro ano para o qual dispomos de dados) tem-se verificado acréscimos nas exportações e nas vendas no mercado nacional praticamente todos os anos. Até 2012, Portugal foi perdendo representatividade (de 70% até 59%), recuperando depois quota de mercado até 2019 (65%) e baixando um pouco (para 62%) em virtude da pandemia”, revela o IVDP.
OS DESAFIOS DO SETOR
A falta de mão de obra continua a ser o grande desafio do setor, mas as alterações climáticas preocupam ainda mais o IVDP, uma vez que “os fenómenos intensos e curtos, e a escassez de água podem ser uma dificuldade num futuro muito próximo”.
Por agora, importa recuperar de um ano atípico. “No segundo trimestre de 2020, com a entrada em vigor do primeiro Estado de Emergência, as empresas do setor vitivinícola, para além dos custos com a implementação de plano de contingência, tiveram de enfrentar dificuldades com a mão de obra para os trabalhos agrícolas e ainda com a diminuição acentuada nas vendas de vinho”, salienta o IVDP.
A solução passou para o mundo digital, com as vendas online, que ganharam destaque com o aumento de consumo de vinho em casa durante os períodos de confinamento. Contudo, não foram suficientes para compensar as quebras resultantes do encerramento do canal HORECA, que, em alguns casos, continua a meio gás.