Os tempos mais agudos da pandemia não permitiram a sua celebração, quebrou-se alguma ligação ao sacramento, mas já estava em crise antes da pandemia. Muitos católicos estão a deixar de recorrer ao sacramento. Se noutros tempos se verificava muitas confissões e poucas comunhões, depois passou-se para muitas comunhões e poucas confissões, o que ainda vigora, apesar de já se notar o tempo de nem muitas confissões, nem muitas comunhões. Há um conjunto de cristãos que eu não consigo entender: os que nunca comungam, nem os que nunca se confessam. Se não comungam, por que é que não se confessam? E se não precisam de se confessar, por que é que não comungam? Deixemos a solução para o Espírito Santo. Importa é que não arrastemos o sacramento da confissão para a insignificância ou a inutilidade.
O mundo de hoje coloca-nos novas questões e desafios: hoje há uma maior sensibilidade para com a privacidade de cada pessoa humana e para com a vida íntima de cada um, apesar de, neste campo, a sociedade atual manifestar muitas contradições. Vemos as pessoas a escancarar a sua vida privada, e até por vezes a sua vida íntima, nas redes sociais de forma exibicionista, desnecessária e imprudente. Seja como for, a sensibilidade está aí e temos de a respeitar. A vida privada e íntima não diz respeito só a cada um? Há necessidade de uma pessoa expor a sua vida a outra, por muito séria que possa ser essa outra pessoa, para se receber o perdão de Deus? Por outro lado, já vários católicos revelaram que sentem algum constrangimento na confissão auricular ou privada, até se chega a sentir vergonha, desconforto, acanhamento, e até aconteceram más experiências na confissão, e não me refiro a abjetos abusos sexuais, mas a conversas demasiado invasivas da vida, rigorismo do confessor, despropósito de temas, entre outras.
Penso não ser despropositado a Igreja criar outras formas de dar o perdão e celebrar a reconciliação, começar a pensar em celebrações comunitárias da confissão, onde se proporia às pessoas o confronto com a Palavra de Deus, uma oportuna e profunda revisão de vida e um minucioso exame de consciência, onde a Igreja convidaria os fiéis a fazerem um compromisso de mudança de vida e a reparar o mal e as omissões cometidas, e daria uma absolvição dos pecados, favorecendo um novo recomeçar na relação com Deus e com os outros, sem terem de o fazer de forma privada.