Dos nove escalões de IRS, oito deles sofrem uma redução das taxas marginais face às taxas em vigor (OE 2024), exceto o último escalão, que se mantém nos 48%.
No entanto, a tributação sobre o trabalho em Portugal continua elevada. Isso facilmente se percebe na comparação com outros países da União Europeia. Neste caso, a análise é feita em comparação com a Estónia (o país com o sistema fiscal mais competitivo), Países Baixos (país com o salário médio mais elevado, em paridade de poderes de compra), Alemanha (país com a maior taxa de poupança) e Irlanda (país com o maior Rendimento Nacional Bruto per capita).
Em paridade de poderes de compra, ou seja, equiparando os diferentes custos de vida dos países e considerando 14 meses de salário, para um rendimento mensal bruto de 1.500€ (aproximadamente o salário médio bruto português), a percentagem do custo de um trabalhador que vai parar aos cofres do Estado (IRS + contribuições para a Segurança Social) é de 39,2%, sendo que, dos países analisados, apenas a Estónia apresenta uma carga fiscal sobre o trabalho (tax wedge) ligeiramente superior (41,2%). Na Irlanda (13,8%) e Países Baixos (19,3%) a tributação efetiva é muito inferior.
Para 1.000€ brutos mensais, Portugal é mesmo o país com maior tributação sobre o trabalho entre os países considerados, com 36,1%, sendo que na Irlanda e nos Países Baixos ronda os 13%.
No nível de rendimento mais elevado (10.000€), entre os países analisados, Portugal é também, de forma destacada, o país com maior tributação sobre o trabalho, com 56,6%, ao passo que nos restantes países, varia entre os 42,4% na Estónia e os 49,7% na Irlanda.
Vários motivos influenciam a competitividade e atratividade de um país para os trabalhadores, sendo que os salários e a carga fiscal sobre esses rendimentos estão entre os fatores cruciais, razão pelo qual Portugal tende a “perder” mais jovens recém-licenciados para países cujos salários líquidos tendem a ser maiores. A redução fiscal proposta pelo anterior governo para o Orçamento do Estado de 2024, e reforçada pelo novo governo, procurou transmitir um sinal de compromisso sobre esta matéria, mas os dados revelam que parece ser ainda bastante escasso.