As adjetivações são variadas e vão diretamente para António Costa e para o Partido Socialista, o “pragmatismo radical” e/ou o partido “charneira” identificam uma deriva à direita da linha política seguida por este Partido Socialista (PS), como refere Francisco Mendes da Silva, no Público, o “PS sentado confortavelmente no lugar do PSD [Partido Social Democrata]”, expressão de uma plasticidade inócua e oportunista do PS, tornando-o nada e tudo ao mesmo tempo.
A naturalidade com que encaro a centralização da orientação política do PS é a mesma com que encarei a construção de pontes à esquerda, em 2015, da qual fui entusiasta e defensor. Essa previsão não era complexa de decifrar, primeiro por consequência do desgaste causado pela dialética entre a pressão à esquerda por parte do Bloco de Esquerda (BE) e do PCP (Partido Comunista Português) e a reciprocidade destes, para uma flexibilidade ao centro, contribuindo para a responsabilidade de aprovar os vários orçamentos necessários à estabilidade do país que, para muitos, era impossível; e, em segundo, a perceção dos portugueses, de que muitas das transformações recentemente vividas, e que afetam a vida de todos nós, não têm origem na esfera da política formal e só em parte podem ser resolvidas por ela, isto é, a aceitação e a compreensão de que a28 incerteza e a instabilidade que prevalecem da crise pandémica, e se mantém na crise inflacionista, consequência de uma guerra em solo europeu, não é parte controlável.
Ora este cenário exige prudência e uma contenção próprias de uma liderança responsável e confiável. O que diriam os críticos se o PS apresentasse um orçamento expansionista, que não respeitasse os pressupostos da redução da dívida nem os da concertação social?
Não, não me parece radicalismo, mas apenas a seriedade de quem está a governar, de quem está a construir caminhos no inesperado, de quem está a tomar decisões que configuram o realismo necessário para proteger o emprego e as pessoas. Este é um PS à altura das circunstâncias.