Sexta-feira, 8 de Dezembro de 2023
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Vindimas fora de tempo

Cedinho, pela fresca, para evitar a canícula que não tardaria, em pleno mês de agosto, um passeio pelas vinhas deste Alto Douro Vinhateiro, que os braços dos durienses fizeram Património da Humanidade, deparo-me com uma vindima.

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Para o espumante já se cortaram as uvas, recordei. Mais uns passos e a dúvida desfez-se quando me informaram que estavam a vindimar o branco porque a graduação provável a tal aconselhava. Quando por ali passava, há cinquenta/sessenta anos, no mês de outubro, estaria longe de imaginar que um dia veria cortar as uvas nos meados de agosto.

São as alterações climáticas, claro! Que alguns insistem em negar. Os 47º Celsius, registando um novo extremo, que se verificaram em julho de 2022 na estação do IPMA, junto à foz do rio Torto, as ondas de calor que têm vindo a acontecer desde há alguns anos, ou quando se bateu o recorde de temperatura média mais alta, pelo segundo dia consecutivo, a nível mundial, 17,18º Celsius, como se verificou no início de julho passado, são esclarecedores.

Vão-se celebrar em breve os 267 anos da região demarcada do Douro. Como seria importante que esta nova realidade estivesse presente na efeméride. A CIM Douro tem dedicado alguma atenção a este fenómeno, tentando encontrar respostas que mitiguem esta situação ou que sensibilizem os durienses para a importância de cada um contribuir para a resolução dos problemas que possam afetar a região. A ADVID – Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense – tem desenvolvido projetos de investigação nessa área, nomeadamente, com a UTAD. O recente “VineProtect”, que envolve investigadores de Portugal, Itália, Turquia e Marrocos, liderado pela FCUP e em que também participa a UTAD, pretende, de igual modo, contribuir para mitigar os seus efeitos no Douro. Tudo isto é bom. Mas é legítimo questionarmo-nos se não será o momento de assumir algumas alterações no que é tido como o melhor para a economia do vinho no Douro. As barragens provocaram alterações no clima duriense. Disso se fala já há mais de trinta anos. As quintas começaram a plantar nas zonas de mais elevada altitude. Hoje, reconhece-se que as altas temperaturas alteram as condições de desenvolvimento da vinha e de maturação das uvas. Não seria caso para ter isso em conta, já, quando se seguem os critérios do Eng. Moreira da Fonseca na atribuição de benefício? Pois! É que talvez não estejamos a vindimar fora de tempo. Porventura, num outro tempo, que passou a ser o normal.

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