Em Portugal, cada vez menos pessoas têm acesso a um médico de família. O número de utentes sem médico de família tem vindo a aumentar e em abril de 2023 já eram quase 1,7 milhões de cidadãos sem um médico de medicina geral e familiar atribuído. Trata-se de um crescimento de 124% face ao mesmo mês de 2019 (mais do dobro), e de 29% face ao mesmo mês de 2022.
Recorde-se que, no programa que António Costa apresentou nas eleições legislativas de 2015 se encontrava o compromisso de “prosseguir o objetivo de garantir que todos os portugueses têm um médico de família atribuído”. Essa mesma garantia tem vindo a ser várias vezes reafirmada ao longo dos últimos anos, no entanto o universo de pessoas sem médico de família é maior do que aquele que os socialistas herdaram no final de 2015. Em dezembro de 2015, 1,04 milhões de pessoas não tinham médico de família atribuído, ou seja, 10,3% do total de utentes inscritos nos centros de saúde. Agora, há 1,68 milhões de utentes sem médico de família, o que representa 15,8% do total de inscritos.
A situação tem vindo a agravar-se, sem uma solução evidente à vista. Existe ainda uma grande disparidade entre regiões, no que respeita a este tema. O problema é mais notório na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde 28% dos inscritos (1,12 milhões de pessoas) não tem um médico desta especialidade atribuído. Já no Norte do país, apenas 3% dos inscritos não tem médico de família. O Alentejo está próximo da média nacional, enquanto o Algarve está um pouco acima e a região Centro abaixo. Estes dados contemplam apenas Portugal Continental.
Os médicos de família desempenham um papel fundamental no acompanhamento das famílias, na prevenção e no diagnóstico precoce de doenças. São, muitas vezes, o primeiro contacto com o SNS. O conhecimento e contacto regular destes médicos com os pacientes facilita o seu acompanhamento e melhoram a qualidade e eficácia da relação das famílias com o SNS. O problema da ausência de utentes com médicos de família é uma das causas da sobrecarga dos serviços de saúde, conduzindo ainda a custos superiores, porque remete os utentes para serviços mais caros (nomeadamente, grandes unidades hospitalares). O Ministério tem da Saúde tem, por isso, o desafio de inverter esta tendência, num setor que tem revelado também muitas outras insuficiências.