Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
No menu items!
Nuno Augusto
Nuno Augusto
Presidente do Regia DouroPark

A crise no Douro

O ano de 2024 ficará na memória da Região Demarcada do Douro não pelo brilho das vinhas, mas pelo reflexo da sua crise. Em mais uma vindima de abundância e qualidade, paradoxalmente, muitas uvas ficaram sem comprador, abandonadas nas videiras. Esta realidade agrava uma situação já fragilizada.

Depois de anos de expansão na venda de vinhos, a brusca redução no consumo de vinho do Porto veio cortar o fio que ligava o Douro a uma prosperidade incerta. A queda na procura de uvas afeta duramente o rendimento de uma região que, há décadas, luta contra um persistente “inverno demográfico” – o despovoamento e envelhecimento que, ao longo de mais de meio século, fragiliza o Douro.

O Douro, hoje, divide-se em duas realidades distintas. De um lado estão as empresas bem estabelecidas, compostas por exportadores tradicionais e novos empreendedores, muitos formados na UTAD, que implementam projetos de valor e promovem a fixação da população. São esses jovens, produtores/engarrafadores, que contribuem para uma economia local ainda resiliente.

Já do outro lado está a vasta maioria de pequenos produtores de uvas, que compõem cerca de 20 mil famílias da região. Envelhecidos e desgastados, veem o seu rendimento estagnado enquanto os custos de produção aumentam, sem capacidade de renovar a geração de produtores. Estes homens e mulheres são os pilares que mantêm viva a icónica paisagem duriense – Património Mundial da UNESCO, que está agora em risco com o abandono crescente dos campos por aqueles que não têm condições de continuar.

A decisão de reduzir o benefício em 26 mil pipas, correspondente a uma quebra de 25 milhões de euros, em dois anos, foi um duro golpe para a subsistência destes pequenos viticultores. Além de um fardo financeiro, esta decisão acrescenta uma dimensão cultural ao problema, pois compromete a continuidade de práticas que, durante séculos, definiram a identidade do Douro.

A vindima de 2024 ilustra um cenário que se poderá repetir. Sem solução à vista, a incerteza cresce e uma debandada torna-se provável. A consequência? Uma região desolada, uma paisagem em ruína e uma cultura esvaziada de vida. Para evitar que o Douro se transforme em memória, é urgente que este tema ocupe o lugar central da agenda política e empresarial da região. A UTAD, enquanto centro de conhecimento e inovação, também deve estar na linha da frente, contribuindo para a procura de novas soluções que harmonizem tradição e sustentabilidade. Precisamos de medidas que olhem para o Douro com a seriedade que ele merece.

OUTROS ARTIGOS do mesmo autor

Os tempos não são nada fáceis

O nosso desafio

Tempo de incerteza

NOTÍCIAS QUE PODEM SER DO SEU INTERESSE

ARTIGOS DE OPINIÃO + LIDOS

Notícias Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS