Proponho refletirmos sobre o sentido e significado da redenção. Jesus remiu os pecados do mundo, Jesus redimiu a humanidade. Qual o sentido destas afirmações? Qual foi a redenção que Jesus nos trouxe e nos conquistou com a sua morte e a sua ressurreição? Por quê tanta obsessão pelo pecado? Qual o alcance destas afirmações de fé?
Escutemos o teólogo jesuíta Joseph Moingt: “Com esse tipo de vocabulário (sacrifício, Cristo sacrificado, redenção…), continuamos a arrastar connosco a ideia de um homem infeliz, que se sente sempre intrinsecamente culpado perante Deus, como se só pudesse viver usurpando o espaço divino e como se incomodasse Deus. O homem sente-se forçosamente culpado de viver à custa de Deus: é por isso que Lhe oferece sacrifícios para que Deus possa, pelo menos, nutrir-se do seu aroma. Os homens carregam todo este fardo desde que se elaborou a ideia de pecado original, a qual, não o esqueçamos, foi apresentada por Santo Agostinho já no século V”!
Continua o teólogo francês: “Este fardo, este «pecado original», é aquilo que designo por «medo de Deus». Mas também se poderia dizer: é o medo da liberdade que faz com que o homem desde as suas mais remotas origens, e qualquer homem desde o seu nascimento, esteja cativo do sensível, acorrentado às suas cobiças. O homem fecha-se espontaneamente num «défice de humanidade», resiste à vocação espiritual que o chama a libertar-se dos laços da animalidade: eis o «pecado original».
Como podemos, então, entender a «redenção», que ocupa um lugar tão grande na fé cristã?
Responde Moingt: “É mais interessante retomar a pergunta feita por vários Padres da Igreja: o que levou Deus a não conceder gratuitamente a salvação aos homens, ou então, porque não enviou um anjo para o fazer? Resposta: não queria humilhar o homem, mas mostrar-lhe o seu respeito pela liberdade dele, associando-o à própria salvação. O filho de Deus fez-se assim homem para que o homem se salvasse a si mesmo; e o homem é por isso elevado na exata medida em que Deus se abaixa por ele. Dir-se-á: apesar de tudo, subsiste uma parte de deus ex machina (Deus surgido da máquina) em todo este entrecho. É verdade, mas, pelo menos, nota-se a recusa da varinha de condão: o homem deve ter ele próprio o mérito da sua libertação e, logo, conservar a sua dignidade perante Deus.”