Esta transmissão ocorre por vários motivos, incluindo o acesso a educação de qualidade, oportunidades de emprego, entre outros fatores sociodemográficos.
Os adultos, entre os 25 e os 59 anos, cujo pai apenas completou o ensino básico são duas vezes mais afetados pela pobreza do que aqueles cujo pai tem o ensino secundário. Um quarto dos adultos cujo pai é estrangeiro, é pobre, face a 15% dos adultos com pai português. Uma em cada quatro pessoas que, aos 14 anos, vivia num agregado com má situação financeira, é pobre, face a uma em cada dez pessoas que vivia num agregado com boa situação financeira. Um quarto dos adultos cujo pai era inativo ou desempregado quando eles tinham 14 anos, são pobres, face a cerca de uma em cada sete pessoas cujo pai era trabalhador por conta de outrem a tempo inteiro. Um em cada cinco adultos que, aos 14 anos, vivia numa família monoparental, é pobre, face a uma em cada sete pessoas no caso dos que não viviam numa família monoparental. Um em cada quatro adultos que, aos 14 anos, vivia numa instituição de acolhimento, é pobre, face a uma em cada seis pessoas no caso dos que não viviam numa instituição de acolhimento. É desta forma que se materializa a pobreza intergeracional em Portugal.
Estes números resultam de uma nota intercalar do relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, de Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Miguel Fonseca, com base no Inquérito às Condições de Vida e Rendimento das Famílias (ICOR) de 2019, onde se conclui que a transmissão intergeracional de pobreza não está a diminuir em Portugal. É o que mostra uma comparação entre as gerações nascidas nas décadas de 60, 70 e 80.
Apesar do esforço pós-25 de abril para fomentar uma maior igualdade de oportunidades, ainda existe um longo caminho a percorrer, a começar no acesso à educação, já que este continua a ser um dos principais eixos de desenvolvimento de uma criança e jovem, como alavanca para subir no elevador social. Os crescentes desafios no setor da educação, em particular na escola pública, afeta sobretudo os mais desfavorecidos e vulneráveis, condicionando o seu sucesso escolar, com prejuízo grande nas expectativas futuras. Aqui encontramos algumas explicações para a transmissão intergeracional de pobreza.