Todos os sinais indicam que estamos em emergência climática, o planeta não aguenta por muito mais tempo as agressões a que tem sido sujeito. Poderemos estar a complicar a vida das próximas gerações e a sobrevivência de todas as formas de vida no futuro. Temos de adotar uma conduta mais responsável e cuidadora. Mas há que saber protestar com criatividade e decência, e não recorrendo ao insulto, à desordem, à humilhação dos outros e à indecência, até porque todos ainda pouco estamos a fazer para mudar de hábitos, opções e comportamentos. A luta climática exige urgência e determinação, mas também alguma paciência. Não se muda de paradigma económico e social de um dia para o outro. Também é verdade que já se deveria ter feito muito mais e não se está a fazer, os interesses instalados dissimulam ou estão a agir muito lentamente. Manifesta-se preocupação pelo ambiente, mas não se quer perder rendimentos e lucros ao mesmo tempo. Há que esperar que os mesmos que nos venderam os meios movidos a fóssil adquiram as tecnologias elétricas e nos vendam a salvação do planeta.
Nos tempos da pandemia sentenciou-se que o ser humano se tornaria mais consciencioso, mas, afinal, parece que pouco mudou: regressámos aos mesmos níveis de consumismo anteriores à pandemia, desatamos a comprar desenfreadamente tudo que nos entra pelos olhos dentro, os políticos não têm outro discurso que não seja continuar a fazer crescer as economias como sempre cresceram, como se os recursos da terra fossem ilimitados, continua-se a viajar para todo o lado para se saborear as férias de sonho. Os aeroportos estão apinhados. É injusto vituperar empresários e políticos quando toda a sociedade tudo faz para viver na mesma e não baixar o nível de vida, e se é preciso fazer mudanças, os outros que vão andando. Neste campo, reina por aí muita hipocrisia.
Numa entrevista ao Expresso, o filósofo Gilles Lipovetsky deixa alguns conselhos aos ambientalistas febris e impacientes: “Devíamos ter uma educação mais global que permitisse aos seres humanos equilibrar os excessos do produtivismo e do consumismo”, e “não devemos sonhar com uma Humanidade sábia em que bastaria dizer que algo não é bom e que é preciso mudar para as pessoas mudarem. Isso não se irá passar. Quem vai resolver esta questão é a ciência, a técnica, os financiamentos”.