Ambos foram poetas e prosadores, ambos fizeram a vida profissional em Lisboa, ambos foram sócios fundadores da Academia de Letras de Trás-os-Montes, ambos deixaram obra literária bastante para engrossarem a literatura e ambos foram já homenageados pela Câmara de Mirandela. O mais velho chamou-se Nuno Nozelos e faleceu em julho de 2017. O mais novo chama-se Ernesto Rodrigues. Do Nozelos recebemos, agora, o livro póstumo, que deixou meio feito. Do Ernesto lemos no jornal do Nordeste, de 27 de abril último, duas páginas onde clarifica uma grande verdade que subscrevo sem reservas. Sem papas na língua afirma que: a censura era sob forma de perseguição, mas isso não impediu que escrevêssemos o que bem entendêssemos. Este artigo de um doutor em línguas, por ser um homem de esquerda assumido e ainda por ser publicado no 25 de Abril, 47 anos depois de extinta a censura em Portugal, revela que a censura – afinal – era mais suave do que a democrática.
Por estes próximos dias Mirandela vai atribuir um prémio literário do qual foi presidente do júri Ernesto Rodrigues.
Explicando o título desta crónica quinzenal pretendo, sobretudo, exaltar os méritos de dois autores transmontanos, separados na idade, apenas em 25 anos, mas com vida normal, simultânea, umas vezes em convivência associativa, outras vezes em plena atividade profissional.
Nuno Nozelos foi uma personalidade discreta, organizada e prudente. Deixou-nos aos 86 anos de vida, cheia de coisas boas, de qualidades nobres e de convites à Terra e ao Criador. Em prosa e em verso editou dezoito títulos. Em antologias e dicionários marcou presença em sete obras e foi cofundador da Revista Silex que marcou uma época. Foi um contista de referência nacional e um poeta laureado. Um técnico profissional respeitado e um intelectual de larga coerência cívica
Em março último, foi apresentado o livro Escritos Reavivados, graças aos cuidados que a dedicada esposa, também ela técnica especialista de saúde pública, recuperou e deu à luz.
Conheci bem estes dois transmontanos de Torre de D. Chama. Admiráveis um e outro. Nozelos abriu-me as páginas da revista Silex, publicação de referência nacional.
Permutámos livros. Deixou escrito que deveria ser eu o prefaciador de Escritos Reavivados. Assim se fez. O Ernesto Rodrigues foi colaborador residente do Mensageiro de Bragança, tal como eu. Tinha ele o Enie. É hoje uma referência nacional.