Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
No menu items!

Muitos cravos, pouca uva

A expressão original – muita parra pouca uva – remete-nos para uma ideia de grande alarido em redor de algo que não se concretiza, é também assim, que cada vez mais se vai fazendo em torno de Abril e do que este representa para o nosso país.

-PUB-

Quando – a 28/05/1936 – num discurso comemorativo dos dez anos do golpe de 1926, Salazar faz a apologia do nacionalismo através da definição dos três pilares em que seria sustentada a ideologia do Estado Novo:

“Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever”.

Com tal hierarquização, o ditador determina que os assuntos basilares ao progresso não sejam alvo de discussão, o que em pouco se diferencia – 87 anos volvidos – dos atuais protagonistas políticos.

Exemplo disso é a própria cerimónia de celebração do 25 de abril, cujo pautar convinha incidir sobre liberdade e evidenciar a queda da ditadura mais longa da europa ocidental do pretérito século, contudo tende a afastar-se e, consequentemente, focar-se em resquícios que em nada importam, como é o caso da polémica em volta da presença de Lula ou das declarações do Presidente da Assembleia da República.

No que se relaciona com o convite feito a Lula, compreende-se a indignação. Tendo Isaltino Morais a dúzia e meia de quilómetros, provavelmente com a agenda livre no feriado, a vinda do Presidente brasileiro consubstancia uma afronta ao reconhecimento e valorização do político português.

No que tange com comentários de Santos Silva e Marcelo R. de Sousa, estes são, desde 1974, livres de os ter, convém é não os proferirem como se estivessem numa relaxada conversa de café. Daqui ao perpetuar e florear de algo que em nada interessa, recheado de vitimização e exigências, como a IL promove, existe uma grande distância.

Hodiernamente, as celebrações do 25 de abril são o holofote predileto da política nacional e poucos são os políticos que salientam Abril, quem deu a vida por ele – não só, mas em maior número – nas províncias ultramarinas ou quem foi perseguido pela PIDE,
Para estes novos e prodigiosos astros do parlamento, Abril não significa mais que o seu narcisismo partidário e traduz-se apenas no máximo palanque em qual despejam toda a matéria que se torne mais conveniente aos seus interesses eleitorais.

A celebração da emancipação do país e do povo acaba por ser faccionada por quem nos representa, esquecendo e omitindo das próximas gerações os espinhos que vivem nos cravos da revolução, não existindo amplitude mental e sensatez que permita a abstração da cor política, ainda que por 10 míseros minutos dum discurso e no relembrar do grande marco histórico da nação.

Certo é que a política não tira férias, esperemos que a liberdade também não.

OUTROS ARTIGOS

ARTIGOS DE OPINIÃO + LIDOS

Notícias Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Subscreva a newsletter

Para estar atualizado(a) com as notícias mais relevantes da região.