Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O Carrilhão – mágico instrumento na história da Banda de Mateus

O carrilhão- ou sinos- foi durante décadas um instrumento cheio de simbologia e significado na história da Banda de Mateus.

Poucas bandas do país se davam ao luxo de apresentarem um instrumento tão fascinante, tão único e admirado. Desde os anos 40 do século XX até finais dos anos 70, aquele instrumento fez vibrar muitos corações nas festas e arraiais. Com o carrilhão, a música era maravilhosa, purificada na sua essência sonora.

Levar carrilhão para as festas, representava um pagamento acrescido à Banda de Mateus. O povo esperava por ele como quem espera por padre em missa de corpo presente, ou assassino arrependido na procura do perdão do padre, bispo ou cardeal.

Joaquim do Pinto, Fernando Pinto, António Claudino – Larica – Arménio Teixeira, Carlos Taveira, Diogo Taveira, Carlos Manuel Pinto Taveira, foram notáveis executantes deste tão sublime e soberano instrumento.

Nele, o som fazia vibrar a alma e ao seu toque, os olhares e ouvidos perpassavam-se na aura do entusiasmo e da felicidade.

Lembro o Arménio Teixeira, apenas com 12 anos de idade, tocar o carrilhão na festa da Senhora da Pena de forma tão natural como gloriosa. A “Marcha do Carrilhão ou Sinos Cantam- Lusitânia e a Rapsódia Aguarela Popular”, foram obras que suscitaram nos arraiais aplausos que se prolongavam como beijo entre dois apaixonados de fresco.

O carrilhão era, pois, um poderoso instrumento que partia os corações mais sensíveis e criava irrefreáveis sensações de prazer.

O calor da assistência na chama viva dos arraiais, confirmava os grandes momentos da música pelo timbre vitorioso do carrilhão.

Também, Arménio Teixeira em 1976, músico da Banda de Mateus, na Avenida Carvalho Araújo, encantou no carrilhão perante olhares e ouvidos atentos de elementos da Banda da Armada. Esta consagrada coletividade tinha acabado de atuar a propósito do “Dia de Portugal” em Vila Real.

No final do concerto, o Chefe Baltazar, disse-me: “um dia quero o rapaz do carrilhão na Banda da Marinha e quero também aquele jovem do clarinete…” referia-se a Heitor Barros.
O carrilhão está hoje votado ao ostracismo, foi arredado dos concertos porque deixou de afinar com os atuais instrumentos. A sua afinação em “brilhante” impossibilitou-o de continuar a inundar as festas com a sua alegria e majestática beleza sonora.

A beleza pode não precisar de livro de instruções, mas a arte é uma forma de partilha onde o entusiasmo da mediação acrescenta significados e expande horizontes.
A beleza é uma forma irresistível de conduzir as almas e por ela se prendem corações e eternizam paixões.

A beleza está no olhar de quem ouve e sente. E quem viu e ouviu aquele carrilhão, jamais afastará da memória momentos em que nas festas e arraiais ele era rei e senhor.

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