E para o Papa se referir a este sacramento desta forma, é porque tem recebido informações sólidas de muitas partes do mundo, ou até o sente na sua diocese. A enfermidade está espalhada por todo o lado. As afirmações do Papa deveriam ter criado um sobressalto na mentalidade dos cristãos e na vida das paróquias, mas parece-me que foram recebidas com grande indiferença e resignação, o que é preocupante. Disse o Papa Francisco: “O problema é como fazer com que o Sacramento do Crisma não se reduza, na prática, a uma “extrema unção”, ou seja, ao sacramento da “saída” da Igreja. Diz-se que é o “sacramento da despedida”, pois quando os jovens o recebem, vão-se embora e depois voltam para o casamento. É o que se diz. Mas devemos fazer dele o sacramento do início de uma participação ativa na vida da Igreja.” Alguns chamam ao Crisma a festa do adeus, outros o sacramento da debandada.
Não há pároco que, possivelmente, não sinta algum desconforto com o sacramento do Crisma. Claro que não estou a generalizar, nem quero ser pessimista, mas poucas dúvidas teremos de que a maioria dos jovens que recebe o crisma vai-se embora e não fica comprometida na vida da comunidade e da Igreja. É um pouco frustrante vermos jovens desaparecer depois de dez anos de catequese ou de um ou dois anos de preparação para o crisma. Por vezes, até pressentimos no ar a tensão ou a pressa para que o crisma aconteça, porque há mais que fazer ou prioridades mais importantes. É claramente um cristianismo de tradição a dar as últimas: obriga-se a cumprir um percurso ou uma caminhada que, na verdade, não diz nada às pessoas e que as pessoas não querem assumir. E ainda o fazem para não terem complicações no futuro.
O que mais escandaliza é a aberração e a contradição de toda esta situação: receber um sacramento para se abandonar a Igreja, quando o Crisma é precisamente para o contrário, é o sacramento da maturidade cristã, do crescimento como discípulo de Cristo, do compromisso com a Igreja e sua missão, de compromisso com o Evangelho, seus desafios e testemunho. Penso que é tempo de se operarem algumas mudanças: por exemplo, acabar com a idade mínima ou deslocá-la para um tempo de mais maturidade pessoal e prestar mais atenção ao crescimento pessoal.