Segunda-feira, 19 de Maio de 2025
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O músico dos cinco instrumentos

José Luís Silveira passou grande parte da sua vida de mãos dadas com a música que o acompanhou nos mais diversos palcos da arte.

Mateus viu-o nascer e abençoou-o com a arte da sua banda. Com apenas 13 anos de idade, iniciou-se no mundo maravilhoso da música, aprendendo solfejo com o Mestre Joaquim do Pinto. Desde cedo, o clarinete tornou-se um fiel companheiro que ele moldava com carinho e vontade de evoluir.

Por necessidade da banda, José Luís alargou os seus horizontes musicais e aprendeu a tocar outros instrumentos de relevo: trombone, tuba, contrabaixo e trompa, tendo ainda feito experiências fugazes na percussão.

A sua versatilidade permitiu-lhe deixar uma marca indelével por onde passou, contribuindo de forma assinalável para a música filarmónica em Portugal, património sagrado da cultura nacional.

Ao longo da sua carreira, tocou e dirigiu diversas bandas filarmónicas, sempre com entrega e paixão.

A sua passagem pela Banda da Armada abriu-lhe portas para assumir o cargo de Maestro da Banda da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro. Paralelamente, conseguiu conciliar a sua carreira de músico com a profissão de funcionário no Banco do Montepio Geral, nunca deixando de se dedicar às bandas filarmónicas espalhadas pelo norte do país. Seria exaustivo enumerar todas as coletividades que beneficiaram do seu intocável profissionalismo.

Nos últimos anos, tornou-se uma presença assídua nas festas mais emblemáticas da região. A frente do coreto era o seu lugar, onde a audição atenta e a crítica construtiva eram valorizadas pelos amigos e colegas que o escutavam religiosamente.

Na Banda de Mateus, certos nomes jamais se apagarão da memória coletiva, fruto da entrega inabalável de músicos que viveram com paixão pela rainha das artes.
As bandas filarmónicas são coletividades ancestrais que unem os músicos ao povo e à paisagem. Outrora, os filarmónicos tocavam até ao ocaso das suas vidas, e os sons dos seus instrumentos eram o testemunho das suas histórias de vida; eram pilares da continuidade das filarmónicas, tocando com chama ardente que incendiava o coração das multidões nas romarias, onde o povo se quedava para escutar os seus ídolos. José Luís Silveira, é um desses músicos cujo nome permanecerá vivo em dezenas de filarmónicas, recordado com alegria e emoção.

O seu legado é de um valor inestimável e perpetua-se através dos filhos, Pedro Silveira, Ricardo e netos – David e Miguel -, tesouros valiosos de artistas consagrados na grande família.

Ainda hoje, quando falo com o meu irmão sobre bandas filarmónicas, a sua voz quase permanece estática, denunciando saudade, dor e lágrimas, enquanto se detém no olhar. Normalmente remata a conversa: “sabes, mas a Banda de Mateus é a do meu coração…”

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