Ficou o apelo para que se dê mais atenção e importância à prevenção e tratamento da saúde mental, que, em Portugal, por exemplo, ainda está subvalorizada e carece de um investimento digno. Há uma grande falta de programas direcionados e baseados em dados, capacidade de pessoal e financiamento sustentado para a saúde mental e apoio psicossocial para crianças, jovens e famílias. A pandemia também contribuiu muito para o declínio da saúde mental.
É preciso intervir na saúde mental, é verdade, mas o suicídio entre os jovens é multifatorial e implica cavar fundo para se compreender o fenómeno. Há muitas causas familiares, sociais, humanas e espirituais que podem arrastar os jovens para o desencanto para com a vida, a começar pelas óbvias, como as frágeis condições de vida e de expectativas pessoais e sociais, mau ambiente familiar e más relações humanas. Mas quem tem dinheiro e riqueza também se suicida. Apontaria outras: o excesso de proteção com que são educadas as crianças na família e na escola, que favorece um infantilismo duradouro, com a consequente imaturidade humana e emocional, dificuldade em gerir emoções negativas e ultrapassar contrariedades e fracassos; o exigir-se altos rendimentos nas idades tenras da vida, com muitas atividades, ocupações e agendas muito preenchidas, sem tempo para a afetividade e para o gozo da vida.
Culturalmente, temos uma sociedade onde já não se luta por nada, cujos valores reinantes são o consumismo, o hedonismo, a vaidade pessoal, o narcisismo, o exibicionismo e o sucesso imediato, valores que mais escravizam do que libertam e humanizam. O pior que estamos a fazer às atuais gerações é não fazê-las lutar por nada, falta-lhes a raiva e a insatisfação saudáveis. As muitas horas que passam em muita diversão fútil teria muito mais sentido em serem empregues em boas causas por si, pelos outros, pela sociedade e pelo mundo. As alterações climáticas, por exemplo, já as mobilizam, mas a muito custo. O culto da noite diz muito da forma como vive muita juventude: ausência de ideais e de projetos de vida sólidos, falta de sentido para a vida, inexistência de objetivos. A noite serve para abafar o vazio da vida. Podemos ainda juntar a ausência de vida espiritual e de valores espirituais, o desnorte moral em que vivemos.