Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Os alfaiates de Mateus sabiam de música

Para quem se manteve atento às coisas relacionadas com os nossos meios rurais, deve ter verificado que o alfaiate foi outrora uma pessoa importante nas nossas aldeias.

A ele se devia muitas das iniciativas culturais. O alfaiate era um homem abalizado a responder a tudo o que dizia respeito à aldeia: a sua história e tradições, as suas narrativas.

Ele era vigilante sobre o que se passava na aldeia. Tinha uma opinião, um gesto de boa vontade.

Não era por isso uma pessoa abstrata, parada nem surda, nem muda. O alfaiate estava presente onde quer que fosse e muito do que os antepassados nos legaram a ele se deve, porque nos falava deles com emoção.

O alfaiate era mais civilizado do que o taberneiro. Enquanto este, ostentava obesidade porque unicamente preocupado com o dinheiro, o alfaiate era nobre e aberto, votado ao Povo, até porque, tirando as medidas dos fatos dos clientes, apercebia-se da realidade económica das pessoas. Na prova das medidas, a cintura estreita era sinónimo de miséria e o alfaiate condoía-se…

Não era raro vermos no alfaiate o filósofo, o poeta, o músico, o fadista, o ouvinte. O contacto com as várias classes sociais levavam-no a aperfeiçoar a sua sensibilidade, captando as várias oscilações do comportamento humano.

Normalmente, os alfaiates nasciam e viviam no meio de numerosa prole sofrendo por isso vicissitudes nos começos da vida, mas foi dessas famílias que se extraíram alguns dos melhores exemplos do povo de Mateus.

Aqui, havia casas distintas de abastados lavradores. A essas casas iam os alfaiates, onde permaneciam um ou mais dias, confecionando fatos para toda a família. O alfaiate era tido quase como hóspede de honra. Ele, eram por norma alegre e divertido, mas as suas condutas primavam de autêntico cavalheirismo.

Sabiam exprimir-se granjeando admiração e respeito.

Também, em Mateus, os alfaiates sabiam de música e tocavam na banda filarmónica. António Pinto Monteiro, para além de bom executante em tuba, também se recriava no violino…Diamantino Monteiro, na caixa rufava como poucos, fazendo questão de tocar por música. Isso era um galardão que ele se orgulhava de ostentar.

Todos os filhos seguiram a mesma estrada da música com sucesso. Armando Moura foi também distinto músico e alfaiate. Homem de bom humor que entusiasmava. Quando tocava o seu saxofone, facilmente se deleitava, porque a inspiração morava dentro dele.
Seria imperdoável não mencionar Mário Pinto, devotado alfaiate e distinto músico da Banda de Mateus: Homem de boa conduta cívica e humana.

Hoje, apenas um alfaiate pontifica em Mateus: José Rainho que não sendo músico, provém de uma família de artistas consagrados.

A música, como meio universal de Higiene do Corpo e da Alma, teve nos alfaiates de Mateus ilustres representantes que deixaram um lastro de perfume e saudade.

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