Como o eleitorado tem memória curta, é normal que as obras e os projetos de responsabilidade dos políticos passíveis de recandidatura se tornem mais visíveis no último ano de mandato. Quem se lembra das boas obras concluídas no início do mandato? Ainda que existam exercícios esporádicos de celebração da memória – o que são deveras curiosos, aliás – ninguém estranha que o último ano do ciclo autárquico seja especialmente característico no exibicionismo municipalista.
Também as oposições locais tendem a mostrar maior coordenação e a realizarem uma oposição mais eficaz. Revelam o prometido e não feito, revelam o que correu mal com outra acuidade, tornam-se intensivas na crítica e sobretudo na proposta de mudança.
Isto é o que acontece na teoria. No entanto, na prática, uns e outros falam sobre o que não conhecem e perante o que receiam. Falam sobre o que não conhecem, isto é, sobre o Futuro. Perante o que receiam, isto é, sobre as condições próprias dos locais.
Muita gente fala sobre o que não conhece, incluindo os economistas. Ao longo da História, falar sobre o futuro tem dado dinheiro a adivinhos, tem dado crédito a profetas e tem chamado sempre a atenção, dos mais ou menos corajosos mas também dos mais ou menos curiosos. Portanto, qual o político que não quer chamar a atenção? Aquele que só fala sobre o passado. Falar sobre o futuro empolga-nos, gera programas televisivos, ajuda-nos a construir os próprios cenários.
Mas os políticos locais têm ainda outro condimento. Falam do futuro sob o receio das condições locais. Condições locais que dependem muito do dinheiro que vem de outros lados, da centralidade dada pelos outros centros, inclusive da imagem que os outros têm de nós. E face a esses três vetores muito pouco se pode fazer. A maioria dos autarcas tem de aceitar o que consegue receber das transferências centrais e comunitárias, é quase ignorada pelos políticos que se passeiam pelos governos e são os primeiros – acreditem – a sofrer a discriminação saloia ou alfacinha dos que olham para a maioria do país sem o conhecer por experiência própria.
Por isso, há algo de heróico – ou de trágico – nos milhares de concidadãos que se inquietam porque pertencerão a movimentos que se apresentarão a sufrágio no próximo ano. Há quem os compare à banda do Titanic. Prefiro vê-los como os meteorologistas optimistas. Mesmo que eu olhe e não veja o bom tempo de praia, são eles que conseguem futurar que mais logo não nos arrependeremos de ter calçado as alpergatas e saído de calções.