Desde logo, pode parecer muito estoico, senão masoquista, perspetivar ganhos dentro da comunidade que perde umas eleições. Mas, mais uma vez suportado pela literatura, identifico quatro grupos principais aqui.
Em primeiro lugar, as oposições internas dos movimentos derrotados. Cumprem um papel até fundamental na sustentação das causas e do ideário, pois são um depósito de energia perante o clima derrotista que se vive no lado perdedor. Nesse lado, muita gente deu tudo o que pode e esse tudo não foi suficiente para o resultado final. Ficaram naturalmente esgotados. Mas a existência de uma ‘força de reserva’, entre os que perderam, permite que as ideias que a corrente antes dominante asfixiava sejam agora rejuvenescidas. A visão que esses opositores tinham para a contenda tem agora espaço de afirmação. E muitos dos derrotados olharão para estas alternativas internas com a esperança de resultados futuros.
Em segundo lugar, aqueles que Cícero chamava de ‘oportunistas do destino’, são os que tendo votado vermelho vivem num bairro de azuis; quando os azuis ganharam, todo o bairro sofreu melhorias, incluindo as áreas vizinhas dos que votaram vermelho. Portanto, beneficiaram dos benefícios alheios. Um pouco como sair o Euromilhões na freguesia e o sortudo investir na mesma: no final, todos ficaram a ganhar um pouco da sorte que calhou a um só.
Em terceiro lugar, há os denominados ‘ganhos da participação’. Se só um pode ganhar, mas todos beneficiam do momento desportivo, algo parecido acontece na contenda política.
Ainda que só alguns ganhem – seja isso o que for (é também muito interessante perceber o sentido de vitória eleitoral efetiva que os estudos desenvolveram) – a maioria dos que participam nos processos em questão tira benefícios. As suas personalidades ficam mais populares, as suas ideias mais debatidas, as suas figuras são vistas como parte das soluções da comunidade. A família dos Crassos, geralmente das mais ricas de Roma, tinha um aforismo para estas situações: quando os nossos amigos ganham no consulado, perdemos sempre dinheiro; quando eles perdem no senado, aí é que enriquecemos.
Finalmente, como não podia deixar de ser, os vira-casacas. Os vira-casacas não são traidores – os traidores são os que saíram do partido ganhador (na História) e se juntaram ao lado derrotado. Não pensemos também que as suas personalidades são básicas – basta olhar para personalidades famosas que ficaram assim rotuladas (desde o famosíssimo Brutus, cujo avô tão bem conheceu a nossa região, o minhoto Miguel de Vasconcelos, pelas suas dívidas e amores, ou até o nosso Duque de Vila Real, o orgulhoso Luís de Menezes) que sabemos que os traidores são seres racionais cujas contas saíram contrárias às da História. No entanto, quando as contas deles saem a favor das maiorias, a conclusão é diferente. Esses são os vira-casacas. Divorciaram-se a tempo. Arrependeram-se das companhias de outrora. Converteram-se mais tarde. Como Karl Jasper reconhecia, assim como a borboleta procura a luz, as nossas ideias procuram a comunhão e a nossa pessoa procura a multidão e as maiorias.