Participaram, via zoom, cerca de meia centena de autores que se regozijaram com o poder de síntese da palestrante, acerca da obra conjuntural dessa eloquente personalidade que, em 1934, subiu às Terras de Barroso e por ali deambulou alguns meses, de modo a caraterizar as personagens dessa obra prima que foi o romance Terra Fria. Tanto assim que, nos alvores do Estado Novo, o conjunto da obra de Ferreira de Castro «chegou a andar nas projeções anuais da Academia Sueca, como provável candidata ao Prémio Nobel da Literatura». Já em 1968, quando editou o «Instituto Supremo, a União Brasileira de Escritores candidatou a obra de Ferreira de Castro e de Jorge Amado», ao mesmo Prémio. Esse conjunto representava o esplendor da Língua Portuguesa. Ficou no ar a ideia de que o galardão não foi atribuído, nessa altura, por causa da política portuguesa. Contudo esse eco lusófono prolongou-se e recaiu na obra de Miguel Torga. A Lusofonia ficava reforçada, face à qualidade de mais esta obra: longa, envolvente e unificadora. Miguel Torga encarnava o espírito universal que Ferreira de Castro e Jorge Amado traduziam.
O mesmo eco engrossara, pela segunda vez. Mas, em janeiro de 1995, morre Miguel Torga. Ora se a política da Academia Sueca, no tempo de Ferreira de Castro, não estava de feição, pusera-se a jeito, já no tempo de Miguel Torga. Este autor Transmontano deixava perceber que o desejado prémio lhe estava reservado. O pelotão dos olheiros culturais, mal Torga fechou os olhos, virou-se para o «saneador de 24 jornalistas» do Diário de Notícias que, em coro bem afinado, tinha tudo congeminado para, mais uma vez, trocar o ícone lusófono. Nem Ferreira de Castro, nem Miguel Torga estavam cá para renderem vénias ao Júri Sueco, cujo porta-voz «teve dificuldades para pronunciar o nome do galardoado. O The New York Times elucidaria os seus leitores, escrevendo: “It’s pronounced Saw-ra-maw-go”».
Presente nessa 23ª sessão da Comunidade de Leitores da Rede de Casas do Conhecimento e acabando de saber que, no dia 5/11, a UTAD assinara um convénio com a viúva de Saramago e com a administradora da Livraria Lello, para a criação da «Cátedra Saramago» na Universidade de Trás-os-Montes, não pude concordar com o apagão da quantidade e quantidade dos autores Transmontanos e Alto-durienses. Possivelmente, desde Camões, Miguel Torga, a Junqueiro, a Trindade Coelho, ao Abade Baçal.
No dia 15/9/22 completará um século de vida o enorme académico Adriano Moreira. Que trono reserva a UTAD para essa figura cimeira da cultura da Lusofonia?