Domingo, 13 de Outubro de 2024
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Tributo a Manuel dos Santos

Foi um homem torturado pela fragilidade das pernas que dificultavam a sua marcha. No entanto, a fé inabalável a frei Vicente incitava-o a prosseguir.

Quem com ele conviveu, ficou tocado pela sua simpatia, bondade e coração grande. Facilmente se emocionava. Falar-lhe em frei Vicente ou na sua banda correspondia à saída fácil da lágrima. A família era o expoente de um amor sem limites.

Nas festas, Manuel dos Santos tinha sempre uma história para contar aos mais novos e a saudade dos tempos idos avivava-lhe a memória. Enquanto as histórias fluíam, as mãos dançavam e o olhar bailava-lhe na penumbra do tempo. Os jovens músicos viam nele uma espécie de pai, um conselheiro, um amigo.

Quando tocava a sua trompa, fazia-o como se o instrumento fosse o seu maior tesouro, o seu guia espiritual. O esforço nas arruadas, era compensado pelos favores que dizia receber do fundador da coletividade.

Nostálgico lembrava: “Em tempos eu tocava trompete e não sendo um grande músico, com esforço conseguia desempenhar o meu papel. Ainda rapaz, as meninas olhavam para mim, não pela delicadeza do meu bigode, mas porque elas gostavam do instrumento que tocava…” assim desabafava Manuel dos Santos, conhecido carinhosamente por Sapec.
Em serviços extenuantes, havia músicos que discutiam por tudo e por nada, criando situações de embaraço e vergonha. Neste cenário, Manuel dos Santos sofria a bom sofrer e com a sua habitual bonomia e palavras certeiras de apaziguamento, a harmonia voltava e com ela a felicidade do nosso músico.

Há fotografias em que este grande senhor exibe a sua postura, a sua atitude primorosa, o seu profissionalismo e nobreza de caráter.

Há um testemunho de imagens em Parada do Pinhão, em 1975- era eu o Mestre – em frente ao coreto, Manuel dos Santos está feliz, orgulhoso, apenas porque se sente reconfortado no meio das primeiras meninas que entraram para a banda. Não admira pois o seu olhar irradiado, porque nele havia uma felicidade e uma esperança anunciada, sabendo que as meninas haviam de ter um papel determinante no futuro das bandas filarmónicas.

Numa arruada em Chacim, já em fase adiantada da sua vida, Manuel dos Santos caminhava muito a custo, cambaleante mas determinado e de tal forma que um cão sentindo-se ameaçado rosnou-lhe junto às pernas. Não querendo interromper o seu toque, esperou pelo momento para que com a ameaça da sua bengala o animal fugisse. Atentos, Albino no bombo e Barrias nos pratos tocaram mais forte para afugentarem o cão que fugindo aos ziguezagues ganiu desesperado.

Manuel dos Santos, um nome que será perpetuado por todos aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer.

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